domingo, 27 de julho de 2014

Esses Moços

Esses Moços
Lupicínio Rodrigues
1948

"Esses Moços" retrata o desencanto amoroso na canção de Lupicínio Rodrigues.

Dizem que Lupicínio Rodrigues é o rei da dor-de-cotovelo, aliás, foi ele quem cunhou a expressão, para quem crava os cotovelos na mesa de um bar, pede uma bebida e chora a perda da pessoa amada.

Como poucos, ele retratou a dor, muitas vezes trechos confessionais de sua própria vida. Mesmo cantando as dores de cotovelo, ele dizia que "é melhor brigar junto do que chorar separado".

Uma das suas músicas que revela maior descrença com o amor é "Esses Moços". Dizem que foi composta depois que seu amigo Hamilton Chaves, então com 22 anos, resolveu casar-se. Lupicínio Rodrigues tentou dissuadi-lo, e aí surgiu então surgiu "Esses Moços".

Os namorados Nilce e Hamilton
Vamos a história:

Hamilton e Nilce começaram a namorar em 1944. Ela se formava em Música, pela Escola de Belas Artes, e no baile de formatura eles dançaram uma vez, depois mais uma, depois uma terceira… Como todos os namorados da época, passeavam na Rua da Praia e tomavam sorvete. Em 1948, o namoro já ia longe e, depois de noivar, o casal cogitava seriamente casar-se.

Foi então que veio o conselho do amigo deles, o compositor Lupicínio Rodrigues, na forma da canção "Esses Moços". Numa primeira e inesperada audição durante a festa de aniversário de HamiltonLupicínio Rodrigues - em pé, no centro da roda de violão - convocou Nilce, deu o tom e disse: "Fiz uma musiquinha pro seu noivo!".

Desconcertada e irritada, Nilce confessaria anos mais tarde ao repórter Eduardo Veras:

"Fiquei furiosa! Eu querendo casar, e o Lupicínio me vem com essa… Quando ele terminou, me aproximei dele e só consegui dizer: Que ursada, hein?"

Mas o jovem Hamilton, felizmente, era teimoso e não deu ouvidos ao poeta.

O casamento de Hamilton e Nilce, em 1948.
"Esses Moços" parece o lamento de alguém castigado pelas dores do amor ("estas rugas que o amor me deixou"), que tenta alertar àqueles que pretendem vivenciar esse amor romântico que eles "deixam o céu, por ser escuro", e "vão ao inferno, à procura de luz". O eu-lírico, que neste caso, parece personificado no próprio Lupicínio Rodrigues, diz que já sonhou, já amou, e tudo o que lhe restou foram mágoas guardadas, de um sofrimento que passou pelos olhos, destruiu-lhe os sonhos e corrompeu-lhe o sangue.

"Esses Moços" é uma música pessimista. Quem ouvi-la com a frieza necessária, verá o lirismo e a beleza da canção. Recomendada para quem acaba de ter uma decepção amorosa, e que deve passar longe dos casais apaixonados. Fez sucesso com Francisco Alves, e foi lindamente gravada por Gilberto Gil.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Esses Moços

Esses moços, pobres moços,
ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam, não passavam,
aquilo que já passei.

Por meu olhos, por meus sonhos,
por meu sangue, tudo enfim.
É que peço a esses moços,
que acreditem em mim.

Se eles julgam que há um lindo futuro,
só o amor nesta vida conduz.
Saibam que deixam o céu por ser escuro,
e vão ao inferno à procura de luz.

Eu também tive nos meus belos dias,
essa mania e muito me custou.
Pois só as mágoas que trago hoje em dia,
e estas rugas o amor me deixou.

Esses moços, pobres moços,
ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam, não passavam,
aquilo que já passei.

Por meu olhos, por meus sonhos,
por meu sangue, tudo enfim.
É que peço a esses moços,
que acreditem em mim.


sábado, 12 de julho de 2014

Sentado à Beira do Caminho

Sentado à Beira do Caminho
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
1969

"Sentado à Beira do Caminho" é uma canção composta,  letra e música, por Roberto Carlos e Erasmo Carlos e lançada no formato compacto simples em maio de 1969 por Erasmo Carlos. É considerada um marco na vida do compositor Erasmo Carlos e ele chegou a declarar no programa "Sarau", apresentado pelo jornalista Chico Pinheiro, tratar-se da música mais importante da sua vida.

Inspirada em uma canção sucesso no ano de 1968, "Honey (I Miss You)" de Bobby Russell, interpretada por Bobby Goldsboro.

"Sentado à Beira do Caminho" é uma canção romântica descrevendo o desespero e a desesperança de um apaixonado que se encontra na "beira de uma estrada" aguardando por sua amada. Nesta situação, a letra descreve o que se passa na estrada - movimento, chuva, sol, trânsito - enquanto o personagem espera por sua grande paixão.

O refrão "Preciso acabar logo com isto, preciso lembrar que eu existo", segundo uma entrevista de Erasmo Carlos, foi criação de Roberto Carlos, após uma madrugada inteira atrás das "palavras certas", e que surgiu após um breve cochilo.

O arranjo da primeira versão da música é valorizada pelo teclado Hammond B-3 de Lafayette Coelho Varges Limp, bastante original e criativo e também pelo guitarra base de Aristeu Alves dos Reis.


A canção, para Erasmo Carlos, veio no momento certo, em um período de indefinição da sua carreira profissional, que começava a passar por dificuldades devido ao fim do sucesso do movimento da "Jovem Guarda". Para Nelson Mota, em seu livro "Noites Tropicais", a música "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" simbolizou para o início da jovem guarda o que "Sentado à Beira do Caminho" representou para o ocaso dos belos momentos do movimento, também chamado de Iê-Iê-Iê, uma febre entre os jovens em meados da década de 1960.

O tema da balada foi uma ideia de Roberto Carlos, parceiro na música, que percebendo o desgaste da fórmula juvenil da Jovem Guarda, já havia abandonado o programa homônimo em que se apresentava, partindo para uma fase mais madura, rumo ao título de maior ídolo da música brasileira. Erasmo Carlos e Wanderléia permaneceriam por pouco tempo no comando do programa que, àquela altura, era mais um entre tantos outros e se arrastava em um verdadeiro clima de melancolia.

Para alegria de Erasmo Carlos o sucesso da música foi imediato e mereceu destaque em um capítulo completo da novela "Beto Rockfeller" (1968-1969), um grande sucesso da TV Tupi, onde o ator Luís Gustavo, o protagonista principal, andava pelas ruas ao som do hit, naquilo que Nelson Mota chamaria capítulo-clip, marcando uma reviravolta na carreira do cantor. A novela chegou a executá-la na íntegra em um capítulo, enquanto o personagem principal caminhava pelas ruas de São Paulo.

O sucesso inquestionável da música esta refletido nas dezenas de regravações, nos mais diferentes estilos, com direito a versões em espanhol e italiano.

Na época, a gravação de Erasmo Carlos foi um estrondoso sucesso, tornando a colocar o cantor nas paradas de sucessos nacionais. As rádios não paravam de tocar a canção em todo o Brasil.


Versões

Em 1980, Erasmo Carlos regravou esta canção, com participação de Roberto Carlos, e outras versões em castelhano foram gravadas pela dupla.

Uma versão em italiano foi gravada por Ornella Vanoni. A regravação, chamada de "L'Appuntamento", foi um dos sucessos da cantora em 1970. Esta versão fez parte da trilha sonora do filme "Doze Homens e Outro Segredo", de 2004.

Em 2006, Andrea Bocelli e Roberto Carlos regravaram a versão em italiano. Outra versão em italiano foi gravada em 2012 por Raul Malo, no álbum ao vivo "Around The World".

Em 2012 a banda Fresno gravou como parte do projeto "Muda Rock".



Sentado á Beira do Caminho

Eu não posso mais ficar aqui a esperar
Que um dia, de repente, você volte para mim
Vejo caminhões e carros apressados a passar por mim
Estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim
Meu olhar se perde na poeira dessa estrada triste
Onde a tristeza e a saudade de você ainda existe
Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança
De ao menos ver de perto o seu olhar que eu trago na lembrança

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo

Vem a chuva, molha o meu rosto e então eu choro tanto
Minhas lágrimas e os pingos dessa chuva
Se confundem com o meu pranto
Olho pra mim mesmo me procuro e não encontro nada
Sou um pobre resto de esperança à beira de uma estrada

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo

Carros, caminhões, poeira, estrada, tudo, tudo
Se confunde em minha mente
Minha sombra me acompanha e vê que eu
estou morrendo lentamente
Só você não vê que eu não posso mais ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira por você
sentado à beira do caminho

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo


domingo, 6 de julho de 2014

Maracangalha

Maracangalha
Dorival Caymmi
1955

Poucas músicas de Dorival Caymmi são tão conhecidas quanto "Maracangalha". Na verdade, trata-se de uma letra simples, uma melodia também simples, que faz da música uma daquelas que parece ter sido feita desde sempre... Stella Caymmi, neta do compositor, contou assim a história da música, no seu livro "Dorival Caymmi: O Mar e o Tempo":

"O samba foi feito na tarde do dia 29 de julho de 1955, uma sexta-feira, em São Paulo, enquanto pintava um auto-retrato, em seu apartamento. De repente, veio em sua mente uma frase de Zezinho, seu amigo de infância em Salvador: 'Eu vou pra Maracangalha'.
Dorival Caymmi se lembra: 'Toda vez que eu dava a ideia dele vir ao Rio de Janeiro, ele desconversava. Isso me intrigava'. Mas logo depois o amigo se abriu. Zezinho tinha uma amante em Itapagipe, Áurea, e com ele tinha quatro filhos.
- Como é que você sustenta essa filharada? - O compositor perguntou espantado.
- Eu me viro. Respondeu Zezinho.
Mas Dorival Caymmi queria saber mais.
- Como é que você faz para vê-la sem que Damiana desconfie?
- Eu forjo um telegrama para mim mesmo e digo: 'Eu vou pra Maracangalha'. É lá que eu compro saco de encher açúcar para embarcar, e ela não desconfia. - Explicou Zezinho.
'Maracangalha' saiu por isso. Fiquei apaixonado pela sonoridade da palavra. Agradeço tanto a Zezinho" - Comentou Dorival Caymmi, revelando a fonte de sua inspiração."

Zezinho, além de sua esposa e família, possuía com uma amante, quatro filhos, que moravam em outra parte de sua cidade. A desculpa que ele usava para visitar a segunda família era enviando para si mesmo um telegrama, informando de negócios precisando de atenção na comunidade de Maracangalha, na Bahia.

Após voltar para sua família "oficial", Zezinho sempre trazia um saco de açúcar - ele trabalhava na usina da comunidade - como prova de onde havia ido.

Dorival Caymmi, intrigado com a poesia nesse subterfúgio de usar o nome da comunidade, compôs "Maracangalha" de uma só vez.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Dorival Caymmi, visite o blog Famosos Que Partiram.



Maracangalha

Eu vou pra Maracangalha eu vou.
Eu vou de uniforme branco eu vou.
Eu vou de chapéu de palha eu vou.
Eu vou convidar Anália eu vou.

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só.

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só sem Analia,
mais eu vou.

Eu vou pra Maracangalha eu vou
Eu vou de uniforme branco eu vou
Eu vou de chapéu de palha eu vou
Eu vou convidar Anália eu vou

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só.

Se Anália não quiser ir eu vou só,
eu vou só,
eu vou só sem Analia,
mais eu vou.

sábado, 5 de julho de 2014

Nervos de Aço

Nervos de Aço
Lupicínio Rodrigues
1947

"Nervos de Aço" é a dor-de-cotovelo clássica composta por Lupicínio Rodrigues para sua noiva Inah. A música trata do sofrimento de alguém que vê o ser amado na companhia de outra pessoa.

Lupicínio Rodrigues fez essa música em homenagem a um grande amor que teve na vida, a mulata Inah, que teria sido sua primeira namorada, sua primeira noiva e também sua primeira desilusão amorosa. Lupicínio Rodrigues e Inah namoraram durante seis anos, e Lupicínio não se decidia em casar, até que eles terminaram e Inah terminou se casando com outro. Disse Lupicínio Rodrigues que ela foi a única mulata de sua vida... depois disso, só teve problemas com loiras.

Certo dia, Lupicínio Rodrigues viu Inah de braço dado com o marido, sentindo um choque tremendo, misto de ciúme, despeito, amizade ou horror. Ficou assim com uma tremenda dor-de-cotovelo de uma vida, que virou dor-de-cotovelo de muitas vidas.

A música é direta, sem firulas e fala de alguém que tem um amor e se vê diante desse amor junto com um "outro qualquer". O personagem desdenha do rival, e consagra a velha expressão, "pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração", e dizendo que, talvez elas, ainda assim, reagiriam passando o que Lupicínio Rodrigues passara. E termina resumindo a sensação quando vê a moça... um desejo de morte ou de dor...

Nas próprias palavras de Lupicínio Rodrigues:

"'Nervos de Aço' é também uma das grandes "dor" de cotovelo. Essa é uma história muito complicada, quando eu fui noivo pela primeira vez e encontrei minha noiva de braços com um cidadão e ela me disse que se casaria com o primeiro sujeito que ela encontrasse, nem que tivesse que morrer de fome por causa deste ato. E eu então fiz esta música que intitula-se 'Nervos de Aço'".

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor,
ter loucura por uma mulher.
E depois encontrar esse amor, meu senhor,
nos braços de um outro qualquer.

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor,
e por ele quase morrer.
E depois encontrá-lo em um braço,
que nenhum pedaço do meu pode ser.

Há pessoas com nervos de aço,
sem sangue nas veias e sem coração.
Mas não sei se passando o que passo,
talvez não lhes venha qualquer reação.

Eu não sei se o que trago no peito,
é ciúme, despeito, amizade ou horror.
Eu só sei é que quando a vejo,
me dá um desejo de morte ou de dor.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Tá-hi (Pra Você Gostar de Mim)

Tá-hi (Taí)
Joubert de Carvalho
1930

Pensar que o autor do primeiro grande sucesso de Carmen Miranda foi Joubert de Carvalho já parece improvável. Joubert de Carvalho não era compositor de marchinhas carnavalescas, tanto que a sua segunda música mais conhecida é "Maringá", música que, inclusive, deu origem à cidade paranaense de mesmo nome.

A composição mais conhecida de Joubert de Carvalho, no entanto, ficou conhecida não pelo seu título original "Pra Você Gostar De Mim", mas como o simples e indefectível "Tá-hi". Ainda hoje, mais de 80 anos após a primeira gravação, se alguém lançar a primeira palavra da canção, "Tá-hi", vem imediatamente "eu fiz tudo pra você gostar de mim / ai meu Deus não faz assim comigo não / você tem, você tem que me dar seu coração".

E "Tá-hi" foi feito sob encomenda para Carmen Miranda. Segundo relata Ruy Castro, na biografia que escreveu sobre a cantora (Cia das Letras, 2005), Joubert de Carvalho passava pela rua quando o Srº Abreu, gerente da loja "A Melodia", o chamara com o intuito de fazê-lo ouvir um disco que acabara de sair. A canção era "Triste Jandaia", da então desconhecida Carmen Miranda. Depois de tocar o disco várias vezes, não é que a própria Carmen Miranda aparece na loja? Quando o Srº Abreu exclama: "Taí a nova cantora!".

Apresentados, Joubert de Carvalho falou de seu interesse em compor algo para Carmen Miranda, que prontamente lhe deu seu endereço.

Joubert de Carvalho saiu da loja com uma palavra - "Taí" - e uma melodia na cabeça. Menos de 24 horas depois, com a partitura debaixo do braço, tocou a campainha de Carmen Miranda na travessa do comércio.


Nas palavras do próprio Joubert de Carvalho (Veja o vídeo no final desta postagem):

"É o seguinte... eu passava pela Rua do Ouvidor, ali tinha uma casa de música 'Melodias' e o gerente da casa chamou-me e disse:
- Joubert venha ouvir uma cantora nova aqui.
Ele botou então um disco da Carmen. Eu não sabia quem era, eu notei que havia presença no disco, e eu disse:
- Olha, Abreu eu gostaria de fazer uma música para essa cantora porque ela interpreta muito bem.
- Ué, isso é fácil!
- Onde é que ela mora?
- Ela costuma vir aqui de vez em quando, mas eu falo, ela deixa o endereço.
De repente ele (Abreu) disse assim:
- Taí, ó, ela taí chegando!
Eu não sei, aquele 'Taí' ficou na minha cabeça e no dia seguinte eu levava para ela a música..."


Relata Ruy Castro, no seu livro, que Carmen Miranda aprendeu a música prontamente, e, quando Joubert de Carvalho tentou orientar sua interpretação, ela disse, com um brilho no olhar:

"Não precisa me ensinar, não, que na hora da bossa, eu entro com a boçalidade!"

E, captando um certo choque no rosto do educado Joubert de Carvalho, logo se corrigiu:

"Desculpe, mas eu sou assim mesmo, meio desabrida!"

Tudo isso ocorreu no começo de 1930, e a música "Taí" tornou-se não apenas um grande sucesso daquele ano, mas também do carnaval seguinte. Foi a música que tornou Carmen Miranda conhecida nacionalmente. O resto é história!

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Joubert de Carvalho e Carmen Miranda, visite o blog Famosos Que Partiram.



Tá-hi

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh! meu bem não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração! (Bis)

Meu amor, não posso esquecer,
se dá alegria faz também sofrer.
A minha vida foi sempre assim,
só chorando as mágoas que não têm fim.

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Oh! meu bem não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração! (Bis)

Essa história de gostar de alguém,
já é mania que as pessoas têm.
Se me ajudasse Nosso Senhor,
eu não pensaria mais no amor.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Perdão Emília

Perdão Emília
José Henrique da Silva e Juca Pedaço
1889

Uma das mais antigas modinhas de que se tem notícia é a triste e melodramática "Perdão Emília", cuja primeira gravação de que se tem notícia remonta ao ano de 1902. Em 1900 Melo Morais Filho, citado por Tinhorão, já se referia à música "Perdão Emília", como uma canção popular e anônima.

O cenário em que a canção se desenvolve é um cemitério. No meio da noite, entra um vulto, vestido de preto, que se curva diante do sepulcro e pede perdão a Emília, por ter manchado-lhe os lábios e a honra.

Eis que então a voz de Emília passa a responder do sepulcro, lamentando ter se deixado apaixonar pelo "Monstro Tirano", afirmando que o pecado da sedução e do subsequente abandono não terá perdão.

E o vulto, ditado, aos pés do sepulcro, insiste no pedido de perdão.

A modinha, cheia dos moralismos e dos melodramas, cuida de uma realidade típica que durante séculos permaneceu na cultura popular europeia e brasileira: a da virgem pura que cede aos encantos daquele que jura eterno amor. Após consumado o ato e cedida a tentação, o varão despreza a quem tanto desejara, como se a cessão "desvalorizasse" a mulher, que, desgostosa, vem a morrer.

São as inevitáveis conexões entre sexo e culpa, presentes de maneira absolutamente dramática na cultura popular. E mostra um fato: a música é o reflexo da cultura de um país e de uma geração. E não foi á toa que a mesma modinha foi gravada e regravada, e até mesmo parodiada, diversas vezes ao longo do século XX.

Há referências de que seus autores verdadeiros sejam o português José Henrique da Silva e Juca Pedaço, no ano de 1889.



Perdão Emília

Já tudo dorme, vem a noite em meio,
a turva lua vem surgindo além.
Tudo é silêncio, só se vê nas campas,
piar o mocho no cruel desdém.

Depois um vulto de roupagem preta,
no cemitério com vagar entrou.
Junto ao sepulcro, se curvando ao meio,
com tristes frases nesta voz falou:

"Perdão Emília, se roubei-te a vida,
se fui impuro, fui cruel, ousado.
Perdão Emília, se manchei teus lábios.
Perdão Emília, para um desgraçado."

"Monstro tirano, por que vens agora,
lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá nesse mundo em que vivi chorando,
desde o instante em que te vi e amei.

Chegou a hora de tomar vingança,
mas tu, ingrato, não terás perdão.
Deus não perdoa as tuas culpas todas,
castigo justo tu terás, então."

Mas eis que um corpo resvalando a terra,
tombou de chofre sobre a terra fria.
E quando a aurora despontou na lousa,
um corpo inerte a dormitar se via. (bis)

"Perdão Emília, se roubei-te a vida,
se fui impuro, fui cruel, ousado.
Perdão Emília, se manchei teus lábios.
Perdão Emília, para um desgraçado."