quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Avôhai

Avôhai
Zé Ramalho
1975

A música "Avôhai" surgiu para Zé Ramalho durante uma experiência alucinógena.

Há livros muito bons e, ao mesmo tempo, estranhos. É o caso de "Zé Ramalho - O Poeta dos Abismos", de Henri Koliver. À primeira vista, trata-se de uma biografia. Depois, percebe-se que é um longo depoimento do cantor e compositor.  Adiante, Henri Koliver retoma o livro e comenta a música do artista paraibano. Ainda que falte algum ajuste editorial, a obra é absolutamente necessária para compreender tanto a música quanto a vida do criador de "Avôhai".

A música de Zé Ramalho pode ser compreendida por qualquer pessoa, mas, como é recheada de "mensagens" - de um misticismo sincrético, por assim dizer - e de histórias pessoais que não podem ser explicadas inteiramente numa música, ou em algumas músicas, o livro é esclarecedor. Aqueles que querem compreender o músico, de maneira mais ampla, devem consultar o livro. Agora, se esperam um trabalho crítico, devem escarafunchar noutro lugar. É uma obra a favor, com a própria voz do músico.

"Avôhai" é, sem dúvida, a música mais expressiva de Zé Ramalho, a que mais o identifica, embora musicalmente talvez não seja a mais rica. O título significa, obviamente, avô e pai, e, conhecendo a história, sabe-se que não poderia ser "Haiavô" ou "Paiavô" (o avô é mais decisivo do que o pai).

"A revelação de 'Avôhai' aconteceu durante uma experiência com cogumelos alucinógenos", relata o compositor. Durante a beberagem, ele diz que escutava uma voz dizendo "Avôhai, Avôhai". A droga, de algum modo, funcionou como uma sessão de terapia, na qual, por meio de associações livres, o sujeito vai se descobrindo, se revelando para si mesmo.

Passados alguns dias do uso dos cogumelos, Zé Ramalho escreveu a letra.


"Ela chegou de uma vez. (...) Peguei papel e caneta e fiz a letra muito rápido, tudo chegava em um turbilhão. Foi a única vez que isso aconteceu, uma forte e intensa experiência espiritual. Muito estranho... totalmente mediúnica. Como o velho Billy (William Shakespeare) dizia, 'há muito mais coisas entre o céu e a terra do que podemos imaginar'. Havia muita coisa de Dylan pairando em minha cabeça. Eu ouvi como se fosse a voz dele. Quando fiz a letra, já sabia dos movimentos musicais; quando estava escrevendo, já sabia das passagens todas. A letra chegou junto com a melodia, e descreve minha experiência!"

A experiência, no caso, é a própria vida de Zé Ramalho.

"'O brejo cruza a poeira' é minha origem, o lugar onde nasci, de onde vim. A cidade de Brejo da Cruz situa-se no sopé da chamada 'Pedra de Turmalina'. (...) 'O brejo cruza a poeira' é uma referência ao êxodo realizado quando abandonamos a cidade e nos dirigimos a Campina Grande. (...). Essa poeira que cruzamos representa a saída, a passagem de uma condição para outra, a partida definitiva do Brejo. Eu tinha uns 5 anos de idade. Tudo ficou para trás: as brincadeiras com os meninos, como bonecos de barro - cavalinhos e boizinhos  -, correr atrás de bode no meio da rua. (...) O terreiro da usina é uma referência a um local existente na cidade, onde eu brincava em minha infância."

A música inclui "várias formas de cantoria", diz Zé Ramalho, como "martelo agalopado, embolada. 'Na altura em que mandar' é uma expressão utilizada pelos emboladores de coco - aqueles que tocam com pandeiro. O 'pra doutor não reclamar' é uma outra tirada de embolada, que os caras usam para sair dos desafios. 'Avôhai' é quase um martelo agalopado, mas comporta muitas formas de cantoria diferentes. Tem muita informação dentro da música: visual, modalidades poéticas. 'Avôhai' é uma música que atrai a atenção das pessoas, pela forma como descreve as situações e as imagens que sugere. Ao mesmo tempo em que ela descreve certos acontecimentos, convida as pessoas a participarem dessa viagem, em razão do clima místico no qual ela se encontra impregnada: a figura do velho, que carrega tantos símbolos e significados. 'Avôhai' é uma espécie de elo perdido, aglutinando tudo, de trás para a frente e da frente para trás".

Se é uma espécie de biografia de Zé Ramalho, um relato imaginativo de sua infância, é também, na visão do artista, um relato "das origens da humanidade".


O que o indivíduo não pode ou não quer revelar, escondendo partes incômodas da vida íntima, o músico desvela por meio de sua arte. Zé Ramalho conta que prefere não saber muito sobre a razão de a mãe ter permitido que fosse criado pelos avós. Em "Avôhai" a figura central é o avô de Zé Ramalho, José Alves Ramalho. "Avôhai é a figura do avô. Fui criado por ele, depois da morte de meu pai (afogou-se quando Zé Ramalho tinha 2 anos). Ele fez a figura do avô e do pai!".

"'Avôhai' é a junção da trindade avô, pai e filho. É também a Santíssima Trindade, e a continuidade da espécie. Mas foi tudo inspirado pela figura de meu avô, que me ensinou a amar a natureza, a não maltratar os animais, a levar uma vida reta". O músico era católico devoto, como os avós. Liam a Bíblia frequentemente. "Ela passava de mão em mão e cada um lia um trecho!".

José Alves Ramalho, que viveu 83 anos, era "tudo" para Zé Ramalho. "Eu o via, às vezes, como um leão, parado, olhando as crias. (...) Meu avô era aquele cara que arranjava tudo, resolvia tudo!". O Avôhai, homem preocupado com formação e a informação, queria que o neto soubesse das coisas. Tanto que Zé Ramalho prestou vestibular e entrou para a faculdade de Medicina.

"Avôhai", além de discutir a continuidade da espécie, representa, para o místico Zé Ramalho, o começo da carreira. "Tudo começa com essa música. 'Cruzando a soleira...', o cara está chegando. Ela abriu meu primeiro disco e uma porta; comecei a montar uma história incrível com essa música", anota o artista.

Zé Ramalho diz que "a companheira que nunca dormia só" é a solidão.

"A porteira da letra é uma referência à Porteira do Tendó, uma enorme gruta onde meu avô me levava no horário do pôr do sol, e de onde saíam milhares de morcegos em busca de alimento, fazendo um barulho impressionante. Aquilo me fascinava e me assombrava ao mesmo tempo!"

Salman Rushdie conta em "Joseph Anton", suas memórias do período em que esteve escondido para não ser assassinado por iranianos, que só se tornou um grande escritor, com romances consistentes, depois que decidiu falar do que sabia - sua vida e a vida dos indianos. Zé Ramalho fez o mesmo percurso:

"Só depois de ter absorvido muita coisa pop é que descobri e compreendi o quanto os valores da minha terra eram importantes. Era isto que faltava em meu trabalho: o universo de minha terra, a coisa milenar, ligada às raízes, esse mergulho. Foi quando eu entrei na cultura de cordel, dos violeiros. 'Avôhai' reúne todas as informações do universo dos violeiros e repentistas, da literatura de cordel e entra como balada, como Dylan, como Pink Floyd!"

Na família de Zé Ramalho, os homens morrem (ou morriam) cedo. Ele acha que escapou da "maldição", pois tem 64 anos.



Avôhai

Um velho cruza a soleira
de botas longas, de barbas longas
de ouro o brilho do seu colar.
Na laje fria onde quarava
sua camisa e seu alforje
de caçador...

Oh! Meu velho e Invisível
Avôhai!
Oh! Meu velho e Indivisível
Avôhai!

Neblina turva e brilhante
em meu cérebro coágulos de sol.
Amanita matutina
e que transparente cortina
ao meu redor...

E se eu disser
que é meio sabido
você diz que é meio pior.
Mas e pior do que planeta
quando perde o girassol...

É o terço de brilhante
nos dedos de minha avó.
E nunca mais eu tive medo
da porteira
nem também da companheira
que nunca dormia só...

Avôhai!
Avôhai!
Avôhai!
O brejo cruza a poeira
de fato existe
um tom mais leve
na palidez desse pessoal.
Pares de olhos tão profundos
que amargam as pessoas
que fitar...

Mas que bebem sua vida
sua alma na altura que mandar.
São os olhos, são as asas
cabelos de Avôhai...

Na pedra de turmalina
e no terreiro da usina
eu me criei.
Voava de madrugada
e na cratera condenada
eu me calei.
E se eu calei foi de tristeza
você cala por calar.
Mas e calado vai ficando
só fala quando eu mandar...

Rebuscando a consciência
com medo de viajar.
Até o meio da cabeça do cometa
girando na carrapeta
no jogo de improvisar.
Entrecortando
eu sigo dentro a linha reta
eu tenho a palavra certa
prá doutor não reclamar...

Avôhai! Avôhai!
Avôhai! Avôhai!


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

Você Não Me Ensinou a Te Esquecer
Fernando Mendes, José Wilson e Lucas
1979

Caetano Veloso abre a porta e toma um susto: Ouve uma de suas canções mais íntimas, "Mãe" - que de tão íntima ele nem teve a certeza de que deveria gravar - cantada de forma sentida e respeitosa por Fernando Mendes, compositor de clássicos bregas como "Cadeira de Rodas".

O motivo do encontro, testemunhado pelo Globo, era justamente o oposto: Surpreender Fernando Mendes ao mostrar, em primeira mão, a gravação que Caetano Veloso fez de "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer", um dos maiores sucessos de Fernando Mendes do fim dos anos 70, redescoberto como tema de amor do filme "Lisbela e o Prisioneiro", de Guel Arraes.

Fernando Mendes compôs e gravou "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer" em 1979, na época em que seguia os passos românticos do cantor Roberto Carlos. É uma sofrida canção de amor, simples e direta como os muitos sucessos populares que o cabeludo e cacheado, até hoje fiel ao corte, compositor teve ao longo de três décadas de carreira. Uma canção que se convencionou chamar de brega.

"Brega é o nome que o invejoso dá ao vitorioso!" replica Fernando Mendes, que diz não se incomodar com a definição. Caetano Veloso, para quem superar tal preconceito com a música popular sempre foi uma bandeira, quase uma razão de ser de sua carreira, incomoda-se, sim.

"É uma boa definição essa do Fernando" provoca Caetano Veloso. Há no Brasil muitos preconceitos, por exemplo contra as canções de harmonia simples. O rock quando surge parece algo regressivo. Então não se percebe como ele trouxe sofisticação formal em termos de contraponto, de timbres, de força de atitude.

Para Caetano Veloso, o mesmo raciocínio em relação ao rock pode ser aplicado no que se chama de brega. Ou seja, há uma simplificação do pensamento sobre música no Brasil.

"Muita gente me acusa de falta de critérios quando defendo esse ou aquele tipo de música, de defender o vale-tudo. Mas o que eu busco é complexificar os critérios críticos. Era essa complexidade que eu buscava em todas as vezes que provoquei o bom gosto dominantes de Vicente Celestino ao 'Tapinha'"

Para Caetano Veloso, antes de expressar tal opinião gravando os rejeitados pelos bem-pensantes da MPB, ele a incorporou em sua própria obra. "É uma postura que já estava nas minhas composições em 1966, em 'Baby', 'Divino', 'Maravilhoso', 'Superbacana', e depois 'Tá Combinado', 'A Luz de Tieta'. Não aceito, nem nunca aceitei essa divisão que impõem à música brasileira entre a canção popular e a música de boa qualidade da MPB.

Uma Breve Análise da Letra

O eu-lírico expressa uma saudade imensa da pessoa amada. Há passagens que mostram um erro cometido pelo autor, a vontade de consertá-lo e o pedido de uma chance. No refrão, o eu-lírico demonstra desespero de encontrar a pessoa amada, o abandono por ela e falta de uma direção na vida. Em suma, há um saudade da pessoa amada, um desespero por não encontrá-la e uma dúvida do que fazer agora que o autor está sozinho, abandonado.
(Maria Eugênia)



Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

Não vejo mais você faz tanto tempo,
que vontade que eu sinto.
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços,
é verdade, eu não minto.

E nesse desespero em que eu me vejo,
já cheguei a tal ponto.
De me trocar diversas vezes por você,
só pra ver se te encontro.

Você bem que podia perdoar,
e só mais uma vez me aceitar.
Prometo agora vou fazer por onde
nunca mais perdê-la 

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.
Vou me perdendo,
buscando em outros braços seus abraços.
Perdido no vazio de outros passos,
do abismo em que você se retirou,
e me atirou e me deixou aqui sozinho.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.

E nesse desespero em que eu me vejo,
já cheguei a tal ponto.
De me trocar diversas vezes por você,
só pra ver se te encontro.

Você bem que podia perdoar,
e só mais uma vez me aceitar.
Prometo agora vou fazer por onde
nunca mais perdê-la.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.
Vou me perdendo,
buscando em outros braços seus abraços.
Perdido no vazio de outros passos,
do abismo em que você se retirou,
e me atirou e me deixou aqui sozinho.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Moça

Moça
Wando
1971

"Ele se foi, mas fico feliz em saber que fez uma música para mim!", essas foram uma das frases expressadas pela consagrada "Moça" que viveu uma história de amor com o cantor Wando, um dos ídolos românticos do Brasil que morreu 66 anos, em 08/12/2012.

A moça Sebastiana Gama, empresária, conhecida por Tiana Gama, encontrou Wando em 1971 durante um show em Santarém, PA. Na ocasião, os dois foram apresentados e tiveram um envolvimento. O encontro marcou a vida da empresária e inspirou um dos maiores sucessos de Wando ao compor a música denominada "Moça" na década de 70.

Quando nós nos conhecemos fomos a praia. Então estava deitada na areia e ele olhou para mim e falou:

"Você tem os cabelos tão lindos. Eu vou fazer uma música pra você!"

Mas não acreditei que isso iria acontecer, relatou Tiana Gama. Ele pegou o rascunhou e falou:

"Um dia você vai ver essa música que é para você!"

Depois daquele ano, a empresária perdeu o contato com o cantor. A música "Moça" foi lançada em 1975 no disco denominado "Wando", em seguida na trilha musical da primeira versão da telenovela "Pecado Capital". No mesmo ano, Wando esteve Santarém. Em entrevista a TV Tapajós, o cantor confirmou a origem da composição da letra.

"O segundo grande sucesso da carreira foi a música 'Moça' que teve uma concepção nessa cidade. 'Moça' foi uma música que começou a nascer aqui. É uma canção que devo muitas obrigações a ela porque abriu muitos caminhos do mundo para mim!"
(Wando)

Sebastiana Gama, a moça que inspirou a canção de Wando.
Tiana Gama ressalta o sentimento por ter contribuído com o sucesso e a história do cantor.

"Ele se foi, mas fico feliz em saber que fez uma música pra mim. Que todas mulheres ao ouvirem essa música saibam que foi feita com muita amor, eu sinto que foi amor porque se não, ele não teria feito!"
(Sebastiana Gama)

Mais ou menos no início dos anos 90, a Rede Globo colocou no ar um novo programa musical nas tardes de domingo para recordar e reapresentar cantores que estavam sumido do cenário artístico e outros que continuavam com grandes sucessos. Numa dessas apresentações, Wando era a bola da vez, e ao ser perguntado sobre o seu maior sucesso musical, "Moça", relatou com notoriedade, que de fato a música foi inspirada na cidade de Santarém, em homenagem a moça, que conheceu nos anos 70.

"'Moça' é uma música minha, que foi feita em Santarém, uma cidade que fica no Pará, depois de conhecer uma criatura que me olhou com os olhos de quem queria alguma coisa e com certeza foi correspondida e aconteceu às 3:00 da manhã!"
(Declarou Wando num bate-papo online com fãs)

Na conversa, o cantor não revelou o nome da moça. Mas, alguns santarenos já tinham conhecimento dessa história, que teria se passado com a Sebastiana Gama, a notável e inesquecível Tiana Gama.



Moça

Moça,
me espere amanhã.
Levo o meu coração,
pronto pra te entregar.

Moça,
moça eu te prometo.
Eu me viro do avesso,
só pra te abraçar.

Moça,
sei que já não é pura.
Teu passado é tão forte,
pode até machucar.

Moça,
dobre as mangas do tempo.
Jogue o teu sentimento,
todo em minhas mãos.

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.
Eu quero, eu quero...

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.

Moça,
sei que já não é pura.
Teu passado é tão forte,
pode até machucar.

Moça,
dobre as mangas do tempo.
Jogue o teu sentimento,
todo em minhas mãos.

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.
Eu quero, eu quero...

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder.
Eu quero, eu quero...

Eu quero me enrolar nos teus cabelos,
abraçar teu corpo inteiro.
Morrer de amor,
de amor me perder!

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ouro de Tolo

Ouro de Tolo
Raul Seixas
1973

"Ouro de Tolo" é uma canção de Raul Seixas presente no álbum "Krig-ha, Bandolo!" de 1973. Em 2009, foi escolhida pela revista Rolling Stone a 16ª melhor na lista das 100 maiores músicas brasileiras.

O nome faz uma alusão a sua utilização durante a Idade Média quando falsos alquimistas prometiam realmente transformar chumbo em ouro, quando a linguagem da alquimia era, na verdade, metafórica ou simbólica, referindo-se à transformação espiritual do homem de um estado pesado, o chumbo, para outro de elevação, o ouro. Assim, transpondo para os próprios ideais e aspirações de Raul Seixas na época, percebe-se que ele indica que o verdadeiro ouro estava no despertar da consciência individual, visando à construção da Sociedade Alternativa, e não no discurso ufanista e triunfalista da Ditadura Militar da época. Logo, o disco voador ao final da letra seria uma referência a essa nova sociedade a ser construída.

Lançamento

Em 7 de junho de 1973, de acordo com uma estratégia de marketing proposta por Paulo CoelhoRaul Seixas convocou a imprensa para registrar sua aparição na Avenida Rio Branco, onde cantou a música "Ouro de Tolo". A cena foi exibida no horário nobre da TV, no Jornal Nacional.

A canção era um ataque no conformismo do país a respeito das ilusórias vantagens oferecidas pela Ditadura. Tornou-se sucesso instantâneo e foi gravado pela Philips com mais nove canções em "Krig-ha, Bandolo!", o primeiro LP solo de Raul Seixas, ainda em 1973.



Ouro de Tolo

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

Ah eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Codinome Beija-Flor

Codinome Beija-Flor
Cazuza
1985

"Codinome Beija-Flor" é a sexta música do álbum "Exagerado" de Cazuza, uma reflexão profunda feita em uma cama de hospital, caracterizando uma das mais profundas músicas da grande e relativamente curta carreira de um dos maiores gênios e poetas do cenário musical nacional.

É uma balada acústica, com a voz sendo acompanhada apenas por piano e violinos. A letra foi escrita por Cazuza quando deitado na cama do Hospital São Lucas, observava beija-flores na janela.

A música se analisada com o momento de Cazuza mostra claramente um estado de espírito diferente, mudando o estilo mais alegre dos tempos de Barão Vermelho, passando mais maturidade nas palavras e com seu lado poético a cada dia mais florescido.



Codinome Beija-Flor

Pra que mentir fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador
Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Garota de Ipanema

Garota de Ipanema
Tom Jobim e Vinícius de Moraes
1962

"Garota de Ipanema" é uma das mais conhecidas canções da Bossa Nova e da Música Popular Brasileira, foi composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.

Em 19/03/1963 foi lançada pela gravadora Verve Records e no ano seguinte, saiu no LP "Getz/Gilberto", interpretada por Astrud Gilberto em conjunto com João Gilberto e Stan Getz, com a participação de Tom Jobim ao piano.

A versão original da música, com o nome de "Menina Que Passa", era diferente e continha a seguinte letra, composta por  Vinícius de Moraes:

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar

Porém, nem Tom Jobim nem Vinícius de Moraes gostaram da letra da canção. Então a versão definitiva foi refeita mais tarde por Vinícius de Moraes, inspirado em Helô Pinheiro, que passava frequentemente em frente ao Bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, em Ipanema, Rio de Janeiro.

Tom Jobim e Vinícius de Moraes frequentavam assiduamente o bar, que dispunha de pequenas mesas na calçada. A Garota de Ipanema, Heloísa Pinheiro, morava na Rua Montenegro, 22 e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração da canção.

Provavelmente em retribuição à homenagem, Heloísa Pinheiro, quando se casou, convidou Tom Jobim e sua esposa Teresa para serem padrinhos.

Vinícius de Moraes e Helô Pinheiro
Outras Versões

Uma versão instrumental desta canção já foi feita para o filme "Garota de Ipanema", de 1967.

A versão em inglês desta canção se chama "The Girl From Ipanema", cuja letra foi escrita por Norman Gimbel em 1963. Já foi cantada por Frank Sinatra, Cher, Mariza, Madonna, Sepultura, Amy Winehouse e vários outros artistas.

Um dueto entre a cantora e apresentadora Xuxa e Daniel Jobim, neto de Tom Jobim, fez parte da trilha sonora e da abertura da novela "Aquele Beijo" (2011), da TV Globo, e de autoria de Miguel Falabella, exibida no horário da 19:00 hs.

"Garota de Ipanema" foi a única canção de outros autores a ter sido interpretada pela banda Casseta & Planeta. Era cantada por Hubert imitando Paulo Francis. Atração frequente dos primeiros espetáculos da banda, foi incluída no videocassete "Casseta Popular & Planeta Diário Em Conserto" (sic), mas não nos discos subsequentes.

A canção inspirou outra da banda americana The B-52's com "Girl From Ipanema Goes To Greenland" (Garota de Ipanema Foi Para a Groenlândia), presente no disco "Bouncing Off The Satellites" (1986). É uma metáfora, já que a "Garota de Ipanema", representa uma garota alegre e atraente e a Groenlândia, um lugar frio, representa uma personalidade fria. Resumindo, é uma garota atraente que se torna insensível.



Garota de Ipanema

Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça.
É ela menina,
que vem e que passa.
Num doce balanço
a caminho do mar

Moça do corpo dourado,
do sol de Ipanema.
O seu balançado
é mais que um poema.
É a coisa mais linda
que eu já vi passar.

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe!
A beleza que não é só minha,
que também passa sozinha.

Ah, se ela soubesse
que quando ela passa.
O mundo inteirinho
se enche de graça.
E fica mais lindo
por causa do amor.

domingo, 2 de novembro de 2014

Alegria, Alegria

Alegria, Alegria
Caetano Veloso
1967

"Alegria, Alegria" é uma canção da autoria de Caetano Veloso que foi um dos marcos iniciais do Movimento Tropicalista em 1967. A música foi lançada, com "Remelexo" no lado B, em 1967 e também integrou o álbum "Caetano Veloso", do mesmo ano. O nome da música veio, por sua vez, de um bordão que o cantor Wilson Simonal utilizava em seu programa na TV Record, "Show Em Si... Monal". O cantor baiano aproveitaria para intitular também de "Alegria, Alegria" seu álbum que foi lançado em novembro de 1967, assim como os próximos três.

A Composição

Caetano Veloso, em parte inspirado pelo sucesso de "A Banda", de Chico Buarque, que havia concorrido no Festival de Música da TV Record do ano anterior, quis compor uma marcha assim como a canção de Chico. Ao mesmo tempo, queria que fosse uma música contemporânea, pop, lidando com elementos da cultura de massa da época.

A letra possui uma estrutura cinematográfica, conforme definiu Décio Pignatari. Trata-se de uma "letra-câmera-na-mão", citando o mote do Cinema Novo. Caetano Veloso ainda incluiu uma pequena citação do livro "As Palavras", de Jean-Paul Sartre: "Nada nos bolsos e nada nas mãos", que acabou virando "Nada no bolso ou nas mãos".

Como a ideia do arranjo incluía guitarras elétricas, Caetano Veloso e seu empresário na época, Guilherme Araújo, convidaram o grupo argentino radicado em São Paulo Beat Boys. O arranjo foi fortemente influenciado pelo trabalho dos Beatles.

"Alegria, Alegria" é considerada a 10ª maior canção brasileira de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil.

Essa música tem um verso com apologia aos alucinógenos, no verso "sem lenço sem documento" faz ligação ao LSD.

Festival da Record

Apresentada pela primeira vez no Festival da Record daquele ano, a canção chocou os chamados "tradicionalistas" da Música Popular Brasileira devido a simples presença de guitarras. No ambiente político-cultural da época, setores de esquerda classificavam a influência do rock como alienação cultural, o que também foi sentido por Gilberto Gil quando apresentou "Domingo No Parque" no mesmo festival.

Apesar da rejeição inicial, a música acabou conquistando a maior parte da platéia. Acabou se tornando uma das favoritas, com as manifestações favoráveis superando as facções mais nacionalistas. A música acabou chegando em quarto lugar na premiação final.

Com o improvável sucesso de "Alegria, Alegria", Caetano Veloso se tornou de imediato um pop star, febre que só passou após alguns meses, embora a música tenha lançado Caetano Veloso para a fama, e sua carreira posterior só confirmado sua popularidade.



Alegria, Alegria

Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do brasil

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não, por que não...

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Refazenda

Refazenda
Gilberto Gil
1975

Em 1975 Gilberto Gil lançava um de seus mais inspirados trabalhos, o disco "Refazenda". Tive o privilégio de assistir a um show de Gilberto Gil quando o disco ainda estava saindo do forno, e assim, pude ouvir pela primeira vez músicas como "Refazenda", "Tenho Sede", "Lamento Sertanejo", "Pai e Mãe", e outras antes mesmo delas começarem a tocar no rádio.

Em outubro daquele ano, a revista Pop trazia um matéria com Gilberto Gil falando do lançamento, e o texto de apresentação dizia:

"Ele pesquisa o universo misterioso das religiões orientais, mergulha nos túneis escuros da mente, mexe na terra, conversa com o público das cidades do interior. Mas nunca se afasta do caminho: em todo o trabalho de Gilberto Gil há uma profunda preocupação com a cultura popular. Dentro dessa coerência, Gil agora vem de Refazenda."

Abaixo a transcrição da matéria:

"Gilberto Gil estava na Bahia, depois de uma excursão por várias capitais e cidades do interior. Uma noite, pintou num sonho a palavra Refazenda e a imagem um pouco confusa de uma fazenda encravada num vale, com vacas, galinhas, árvores e, ao mesmo tempo, cercada de um aparato tecnológico próprio das grandes cidades.

'Era um lugar de todos os homens, e ao mesmo tempo, de solidão total. Analisando depois, entendi tudo aquilo como a síntese da simplicidade e também como uma grande necessidade existencial dominando minha cabeça. Resolvi explorar a palavra Refazenda ao máximo, pois a acho muito bonita.'

Da dissecação da palavra, como forma, e do conceito Refazenda, resulta o novo LP (recém-lançado) e toda a direção do trabalho atual de Gil:

'É um LP muito simples, quieto, tranquilo. As canções são todas apresentadas com muita cautela, sem improvisações e sem as explorações vocais até certo ponto absurdas que já me permito fazer. Nunca explorei um filão. Sou discípulo direto de Luiz Gonzaga e Dorival Caymmi. Mas, por outro lado, já incursionei pelos experimentalismos, dodecafonismos, já usei os osciladores todos, já fui violeiro e também Jimi Hendrix.'

Mas, como ideia, o que significa o novo trabalho de Gil? O que é a Refazenda?

'Refazenda é, para mim, como um prêmio conceitual a tudo o que já fiz, fui e serei. Minha intenção é acentuar esta abertura total, buscar dar mais cor ao verde das matas, fazer tudo renascer: que as flores voltem aos campos e, se for na cidade, que seja Refazenda. Em suma, Refazenda é tudo o que eu quiser viver, fazendar, andar de ré.'

Por outro lado, Refazenda é também um oportuno toque sugerindo a volta à simplicidade, à natureza, uma nova proposta de equilíbrio ecológico. Na explicação do conceito, por escrito, Gil diz:

'Renda tecida com fios do milho, milho ouro, milho sol, (...) Esperança transmutada em verde de verdade, verdes notas mágicas, o encanto da fazenda nova. Reencantação. A árvore da trindade: abacate, tomate, mamão. Árvore milagrosa: um fruto diferente a cada estação. (...) Refazenda segue sendo a vontade de Deus para cada estação'.

Muito dessa ideia nasceu do próprio trabalho de Gil, um trabalho incansável de troca de informações que ele pretende continuar:

'Quero sair por aí conhecendo cidadezinhas do interior, levando espetáculos para pessoas que têm muito mais carência de um mundo de sonhos e fantasias como um show de Gilberto Gil ou outro artista qualquer. Uma apresentação dessas é muito mais densa que o circuito Rio-São Paulo. Alguém tem que fazer este trabalho de interiorizar a arte. Aliás, desde que voltei da Inglaterra tenho me dedicado a isso.'
E Refazenda 'também deve ser na cidade'. Ou na cabeça de cada um, mesmo que isso leve ao misticismo. 'Eu me considero um místico por excelência. Já abordei todas as seitas em busca do conhecimento, melhor entendimento entre matéria e espírito, céu e terra: candomblé, zen-budismo, ioga, etc. Cada nova fase é uma prisão voluntária à qual me submeti em busca da liberdade, sacou? Refazenda começa num vale e termina nos limites da mente...' "



Refazenda

Abacateiro acataremos teu ato
nós também somos do mato como o pato e o leão.
Aguardaremos brincaremos no regato
até que nos tragam frutos teu amor, teu coração.
Abacateiro teu recolhimento é justamente
o significado da palavra temporão.
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
amanhecerá tomate e anoitecerá mamão.
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também.
Abacateiro serás meu parceiro solitário
nesse itinerário da leveza pelo ar.
Abacateiro saiba que na Refazenda
tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar.

Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba

Abacateiro acataremos teu ato
nós também somos do mato como o pato e o leão.
Aguardaremos brincaremos no regato
até que nos tragam frutos teu amor, teu coração.
Abacateiro teu recolhimento é justamente
o significado da palavra temporão.
Enquanto o tempo não trouxer teu abacate
amanhecerá tomate e anoitecerá mamão.
Abacateiro sabes ao que estou me referindo
porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo
cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também.
Abacateiro serás meu parceiro solitário
nesse itinerário da leveza pelo ar.
Abacateiro saiba que na Refazenda
tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar.

Refazendo tudo
Refazenda
Refazenda toda
Guariroba


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Que País é Este

Que País é Este
Renato Russo
1978

"Que País é Este" é uma canção da banda de rock brasileira Legião Urbana. Foi escrita por Renato Russo em 1978, quando o mesmo ainda pertencia a banda Aborto Elétrico. Porém, ela só foi lançada com o álbum do Legião Urbana "Que País é Este", de 1987.

Em um texto contido no encarte do álbum, a banda explica sobre a canção:

"Que País é Este" nunca foi gravada porque sempre havia a esperança de que algo iria realmente mudar no país, tornando-se a música então totalmente obsoleta. Isto não aconteceu e ainda é possível se fazer a mesma pergunta do título.

A música foi ranqueada na posição nº 81 da lista "As 100 Maiores Músicas Brasileiras" da Revista Rolling Stone Brasil.

Em 1987, ela foi a música nacional mais tocada no ano. Se incluirmos as músicas internacionais, ela foi a segunda música mais tocada, atrás apenas de "Livin' On a Prayer", de Bon Jovi.

História

"Que País é Este" é considerada uma das mais bem politizadas do nosso país, sendo uma das primeiras canções importantes da chamada "linha politizada" do rock brasileiro.

A música foi composta quando Renato Russo ainda pertencia à banda punk Aborto Elétrico. Porém, mesmo depois da dissolução da banda, essa canção continuou sendo apresentada por Renato Russo, desta vez nos shows da Legião Urbana, formada em 1983, em diversas cidades do país.

Renato Russo aproveitou-se do cenário político brasileiro para finalmente gravar a música.

Em 1987, o país vivia um momento complexo, como dificuldade de estabilização política naqueles três primeiros anos sem governo militar - comprometidos no seu ideal pela morte de Tancredo Neves e da utopia que ele simbolizava - o fracasso das duas encarnações do Plano Cruzado, o vazamento de Césio 137 em Goiânia, tudo isso em meio aos confusos trabalhos da Assembléia Constituinte.

Regravações

Em 1999, a banda Os Paralamas do Sucesso a regravou no álbum "Acústico MTV", lançado em CD e DVD.

Em 2005, a banda Capital Inicial a regravou no álbum "MTV Especial: Aborto Elétrico", lançado em CD e DVD. Também em 2005, a banda Titãs a regravou ao vivo para o álbum "Renato Russo - Uma Celebração".

Créditos de Gravação

  • Renato Russo: Violões, Voz, Teclados e Composição (Letra e Música)
  • Dado Villa-Lobos: Guitarras e Vocal
  • Renato Rocha: Baixo e Vocal
  • Marcelo Bonfá: Bateria, Percussão e Voz



Que País é Este

Nas favelas, no Senado,
sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição,
mas todos acreditam no futuro da nação.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

No Amazonas, no Araguaia iá, iá,
na baixada fluminense.
Mato grosso, Minas Gerais e no
Nordeste tudo em paz.
Na morte eu descanso,
mas o sangue anda solto.
Manchando os papéis, documentos fiéis,
ao descanso do patrão.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

Terceiro mundo se for,
piada no exterior.
Mas o Brasil vai ficar rico,
vamos faturar um milhão.
Quando vendermos todas as almas
dos nossos índios num leilão.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Quero Que Vá Tudo Pro Inferno

Quero Que Vá Tudo Pro Inferno
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
1965

"Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" é uma canção dos compositores brasileiros Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Gravada e lançada em 1965, a música foi a primeira faixa do álbum Jovem Guarda de Roberto Carlos.

Lançada inicialmente em compacto simples em 1965, "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" é tida como uma marco na carreira de Roberto Carlos. Ela se tornaria seu maior sucesso na fase da Jovem Guarda e um dos maiores hits de toda sua carreira. Febre nas rádios brasileiras, ela elevou Roberto Carlos a condição de fenômeno musical no país.

A música foi inspirada em Magda Fonseca, então namorada do cantor, que estava nos Estados Unidos para fazer um curso de inglês. A letra expressava tanto a saudade que o cantor sentia de Magda quanto um desabafo: Que tudo fosse para o inferno.

Roberto compôs inicialmente a primeira parte da canção e a apresentou ao parceiro Erasmo Carlos, que o ajudou no restante da letra.

Depois de dois meses, Roberto Carlos finalizou a canção e, em agosto, encaminhou uma fita com sua gravação para Magda Fonseca. Logo depois, o cantor apresentou "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" para Othon Russo, diretor de relações públicas da CBS, que pediu a ele que a gravasse imediatamente e que ela seria a faixa de abertura do próximo LP de Roberto Carlos, chamado "Jovem Guarda".

Em 1975, "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" foi regravada para o LP "Roberto Carlos",  novamente como faixa de abertura de seu álbum anual. Mas com o passar do tempo, a crescente religiosidade do cantor, aliada à superstição causada pelo transtorno obsessivo-compulsivo, fizeram com que o cantor, a partir da década de 80, banisse a canção de seu repertório. Roberto Carlos sequer mencionava o título da canção, pois sua doença fez com que ele evitasse pronunciar palavras como "mal" e "inferno".

Versões

O GNR regravou a música, criando um clipe especial para ela, em que se imitava os passos de dança da época do lançamento da musica original.

Buddy Mary McCluskey fez duas versões para a canção: "Que Se Vaya Todo Al Infierno" e "Quiero Que Todo Vaya Al Infierno".

Na novela "Vamp" de 1991, a personagem Natasha (Cláudia Ohana) canta essa música, que acabou indo para a trilha complementar da novela.



Quero Que Vá Tudo Pro Inferno

De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar,
se você não vem e eu estou a lhe esperar.
Só tenho você no meu pensamento,
e a sua ausência é todo o meu tormento.
Quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!

De que vale a minha boa vida de playboy,
se entro no meu carro e a solidão me dói.
Onde quer que eu ande tudo é tão triste,
não me interessa o que de mais existe.
Quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!

Não suporto mais você longe de mim,
quero até morrer do que viver assim.
Só quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!

Não suporto mais você longe de mim,
quero até morrer do que viver assim.
Só quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Ahhhhhh
E que tudo mais vá pro inferno!