sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Faroeste Caboclo

Faroeste Caboclo
Renato Russo
1979

"Faroeste Caboclo" é uma canção do grupo brasileiro Legião Urbana, composta pelo compositor e líder da banda, Renato Russo. Composta em 1979, ela só foi lançada oficialmente em 1987, no álbum "Que País é Este 1978/1987" e já era velha conhecida dos amigos de Renato Russo. A música foi escrita quando o jovem Renato Russo se apresentava por Brasília como "Trovador Solitário": só ele, um banquinho e um violão.

O álbum "Que País é Este 1978/1987" reunia sete canções antigas, da época de "Trovador Solitário" e de "Aborto Elétrico", e apenas duas inéditas, "Angra dos Reis" e "Mais do Mesmo".

Ganhou bastante atenção quando do lançamento do álbum e, por isso, mereceu ser lançada como single promocional, o que só aconteceu em 1988 devido à necessidade de editar a canção para a aprovação pela censura federal.

A canção foi censurada para radiofusão por conter "referências a drogas e linguagem grosseira e vulgar", conta o jornalista Carlos Marcelo na biografia "Renato Russo - O Filho da Revolução", cuja nova edição sairá com ensaio sobre "Faroeste Caboclo".

As rádios começaram, então, a tocar uma versão com cortes em partes como "comia todas as menininhas da cidade", "que fica atrás da mesa com o cu na mão" e "olha pra cá, filha da puta sem vergonha".

Renato Russo afirmou na época que a estrutura de "Faroeste Caboclo" foi inspirada em "Hurricane", sucesso épico de Bob Dylan sobre um boxeador condenado à prisão, e em "Domingo no Parque", de Gilberto Gil.

Em 2013, a canção ganhou uma adaptação cinematográfica, dirigida por René Sampaio, com roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein a partir da letra original, e tendo nos papéis principais os atores Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo), Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias) e César Troncoso (Pablo).


Histórico e Estrutura

"Faroeste Caboclo" narra a história de João de Santo Cristo, um traficante nascido no Nordeste do Brasil (supostamente no interior da Bahia) que se muda para Brasília e se redime ao apaixonar-se por uma mulher chamada Maria Lúcia, sendo posteriormente assassinado por Jeremias, um traficante rival.

A canção tem 168 versos. Segundo o jornalista e historiador Marcelo Fróes, no manuscrito original com a letra de "Faroeste Caboclo" havia uma anotação de Renato Russo dizendo que imaginava a música como um baião cantado por Luiz Gonzaga. Apesar da duração incomum para uma canção popular, 9'03", há duas outras composições de Renato Russo ainda mais extensas: "Metal Contra as Nuvens" (11'22") e "Clarisse" (10'32").


Lançamento

A canção foi censurada, junto com "Conexão Amazônica", do mesmo disco, mas por razão diferente: a presença de palavrões, enquanto "Conexão Amazônica" foi censurada por causa da temática, sobre o tráfico de drogas. Porém, em "Faroeste Caboclo", foi feita uma edição onde se colocou um sinal sonoro sobre os palavrões. Com isso, a música foi liberada para radiodifusão.


Frases Sobre a Letra

"Eu acho legal que as pessoas gostem da história. Um motorista de táxi, outro dia, me disse que tinha um amigo que comprou a fita porque era, exatamente, a história do irmão dele. O cara tinha saído de Mato Grosso e ido a Brasília, e morreu num tiroteio no Nordeste. E a canção é totalmente fictícia."
(Renato Russo, 1988)

"Acho que Faroeste Caboclo é uma mistura de 'Domingo no Parque' de Gilberto Gil, e coisas do Raul Seixas com a tradição oral do povo brasileiro. Brasileiro adora contar história. E eu também queria imitar o Bob Dylan. Eu queria fazer a minha 'Hurricane'."
(Renato Russo, 1990)

"Lembro quando ele me mostrou a música, em umas férias na Ilha do Governador, RJ. Ele tinha um caderno cheio de letras ainda não gravadas, que depois foram surgir com a Legião."
(Helena Lemos, irmã mais nova de Fê e Flávio Lemos, do Capital Inicial)

Philippe Seabra, vocalista da banda Plebe Rude, também presenciou os primeiros dias daquela que se tornaria uma das músicas mais famosas do rock brasileiro.

"Renato tocou 'Faroeste Caboclo' para mim debaixo de um bloco em Brasília", lembra. "A música era muito forte."

"A música é a história do Brasil, é um hollywoodão, cheio de clichês do país. Quando ouvi, pensei: 'É um filme'. Tanto é que acabou virando isso mesmo", disse Marcelo Bonfá, baterista da banda.



Faroeste Caboclo

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...


domingo, 4 de agosto de 2013

Cantores do Rádio

Cantores do Rádio
Alberto Ribeiro, Braguinha e Lamartine Babo
1936

A música "Cantores do Rádio" foi composta por Alberto Ribeiro, João de Barro, o Braguinha, e Lamartine Babo.

"Segundo o pesquisador Suetônio Soares Valença, a marcha 'Cantores do Rádio' foi composta dentro de um ônibus, depois de uma noitada em que os três haviam perdido todo o dinheiro apostado no Cassino da Urca. Entusiasmado com a canção concebida no banco de trás do lotação, o trocador teria dispensado-os dos vinténs da passagem."

"Cantores do Rádio" representou a primeira e única vez na qual as irmãs Carmen Miranda e Aurora Miranda apareceram juntas em um filme. Elas interpretaram a canção, enorme sucesso gravado em 1936, no filme "Alô, Alô, Carnaval".

Além de estar presente na trilha sonora do filme "Alô, Alô, Carnaval", esteve também na trilha do filme "Quando o Carnaval Chegar", interpretada por Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão (1972).



Cantores do Rádio

Nós somos as cantoras do rádio
Levamos a vida a cantar
De noite emabalamos teu sono
De manhã nós vamos te acordar

Nós somos as cantoras do rádio
Nossas canções, cruzando um espaço azul,
Vão reunindo
Num grande abraço
Corações de norte a sul

Canto pelos espaços afora
Vou semeando cantigas
Dando alegria a quem chora

Canto pois sei
Que a minha canção
Faz estancar a tristeza que mora
No teu coração

Canto pra te ver mais contente
Pois a ventura dos outros
É a alegria da gente

Canto e sou feliz só assim
E agora peço que cantem
Um pouquinho pra mim