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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Samba em Prelúdio

Samba em Prelúdio
Baden Powell e Vinícius de Moraes
1962

A música "Samba em Prelúdio" surgiu durante um encontro entre Baden Powell e Vinícius de Moraes. Esta é uma engraçada história contada pelo violonista Baden Powell, um dos maiores músicos do Brasil das décadas de 60 e 70, sobre a composição da música "Samba em Prelúdio", cuja letra Vinícius de Moraes fez.

O jeito leve e descontraído de ser de Baden Powell pode ser visto já numa das anedotas em que se envolveu. Certa vez, o músico chegou ao Teatro Record, em São Paulo, de sandálias e calças brancas direto do Rio Janeiro. Requisitado a ir para o hotel se trocar antes da apresentação, não quis. "Aqui você não vai cantar", disseram-no, e ele voltou imediatamente de taxi para a Cidade Maravilhosa.

Pena para os paulistanos que perderam na ocasião a oportunidade de ouvir música e histórias dessa grande personalidade. Em "Samba em Prelúdio"Baden Powell chamou Vinícius de Moraes, a quem considerava "mais que um pai", para ouvir a música que compusera.

Romântica e bela, a canção encontrou-se digna de uma letra de Vinícius de Moraes. Sentados à mesa com whisky e violão, iniciaram a empreitada criativa. Na terceira garrafa da bebida, enquanto a letra não saía, Vinícius de Moraes, constrangido, disse achar que a música era plagiada de Frédéric Chopin, ao que Baden Powell respondeu: "Você que bebeu demais e está implicando comigo!".

Quem resolveu o imbróglio foi Lucinha, então mulher de Vinícius de Moraes, acordada às 3:00 hs da madrugada, já que era pianista e fã de Frédéric Chopin, para descobrir se a música tinha ou não sido copiada de uma obra do compositor polaco do século XIX.

Ao constatar que as notas realmente eram originais de Baden PowellVinícius de Moraes ficou sem graça e disse: "Então, Baden, Chopin esqueceu de fazer essa".

Questão solucionada, Vinícius de Moraes pôde, finalmente, sentar-se à máquina de escrever e de uma vez fazer a letra inteira da música "Samba em Prelúdio".


A história contada na íntegra por Baden Powell:
"Vinícius de Moraes foi mais que um pai pra mim. Foi um amigo que ficou inesquecível no coração da gente. Nós vinhamos muitas vezes aqui para Petrópolis acabar de compor as músicas, e numa dessas vindas eu cheguei na casa do Vinícius e falei assim:
- Olha Poetinha, eu fiz uma música e acho que essa música tem um negócio muito bom, e ela é uma música bem apaixonante, ela é cheia de amor e tal.
Eu toquei a música pra ele. Ele gostou, falou:
- Mas que música... vai dar uma letra de amor muito bonita!
Então pra começar nós arrumamos a mesa, botamos aquela garrafinha de whisky, o violão. Ficamos nós três ali, o violão, eu e Vinícius... e a garrafa também (risos). Nesta época nós enxugávamos bem uma garrafinha de whisky.
Quando foi lá pras tantas, três horas da manhã, nós estávamos já na terceira garrafa e eu cheguei perto do Vinícius e falei assim:
- Oh Vinícius, tá tudo bem, nós já estamos, acho, quase bêbados não é? E a letra do samba até agora não saiu não é Vinícius?
Ele falou assim:
- Não Baden, sabe o que é que é? Aconteceu uma coisa aqui e eu não quero te contar não. mas eu... eu vou deixar essa letra pra lá. Eu não vou fazer essa letra mais hoje não!
- Mas o que é que houve Vinícius?
- Não houve nada não, coisas...
- Não, mais agora você vai pois afinal de contas Vinícius, eu cheguei aqui nove horas da noite e n ós já tocamos essa música, já estamos na terceira garrafa e você vem dizer que não dá?
- Não, não... é uma coisa muito desagradável , depois eu falo!
- Não, nós estamos em quatro paredes, eu, você e tal... não tem mais ninguém, conversa de amigos, então conta o que aconteceu, o que é que houve?
- Não Baden, é uma coisa desagradável, não queria te falar, mas... o que acontece é o seguinte: Eu acho que essa música é plágio!
- Plágio? Porque você não me disse antes? Eu não tinha tocado tantas vezes até agora!
- É plágio Baden e depois não vai ficar bem, vai sair nos jornais: 'Baden e Viníciius plageiam'
Eu falei assim:
- Não Vinícius, tudo bem, essa música não é plágio, mas diga: Plágio de quem?
- Isso é claro Baden, isso aí é Chopin!
- Não Vinícius, eu conheço Chopin. Conheço os Prelúdios Noturnos de Chopin e não tem nada a ver com Chopin.
- Isso é Chopin, você não me engana, eu tenho ouvido Baden. Você não me engana, isso é Chopin. Você bebeu demais, talvez e tal... fez uma música e pensou que era sua e não é... você tava fazendo uma música de Chopin!
- Eu falei assim:
- Não Vinícius, eu acho que quem bebeu demais foi você. Você está implicando comigo!
Sabe quando a pessoa bebe demais, acende o cigarro do lado contrário, não amarra o sapato... aquelas coisas!
- Então eu vou acabar com essa dúvida. Eu vou chamar a minha mulher, a Lucinha, e ela vai te dizer se é plágio ou não, porque o compositor preferido dela e Chopin e ela toca piano, tem curso e tal!
- Não Vinícius, não vai acordar ela, são três horas da manhã... nós bebemos qualquer coisa né? Acordar ela agora? A gente tá com esse bafo de onça Vinícius... não tá direito!
- Não... não... não... não se incomode não! Ela já está acostumada!
Aí ele foi lá acordar. Ela veio na sala e disse:
- Boa noite! Vocês querem um café com leite?
Eu disse:
- Não... não... não mistura não... se não vai piorar a situação! (risos)
Aí o Vinícius disse:
- Toca a música Baden!
Eu toquei, toquei, toquei.
- Toca de novo!
Eu toquei.

Ela ficou olhando e disse:
- Afinal de contas essa música é uma beleza, é muito bonita, uma música romântica.
Aí o Vinícius ficou olhando assim pra ela falou:
- E você não diz nada?
- Nada o que Vinícius?
- Isso aí é Chopin!
- Não Vinícius. Isso aí não é Chopin, eu conheço as coisas de Chopin!
Aí o Vinícius ficou se graça e falou pra ela assim:
- Até você tá contra mim?
- Mas ninguém está contra você!
Aí ele ficou sem graça, ficou olhando e disse:
- Quer dizer que não é Chopin não, não é?
Aí ele chegou olhou pra mim e disse assim:
- Então Baden, Chopin esqueceu de fazer essa!
Aí ele foi pra máquina de escrever e de uma só vez, nunca mais esqueci, ele escreveu esta letra por inteiro!

(Baden Powell)



Samba em Prelúdio

Eu sem você
não tenho porquê
Porque sem você
não sei nem chorar
Sou chama sem luz
jardim sem luar
Luar sem amor
amor sem se dar

Eu sem você
sou só desamor
Um barco sem mar
um campo sem flor
Tristeza que vai
tristeza que vem
Sem você, meu amor
eu não sou ninguém

Ah, que saudade
que vontade de ver renascer nossa vida
Volta, querido
meus abraços precisam dos teus
teus abraços precisam dos meus
Estou tão sozinho
Tenho os olhos cansados de olhar para o além
Vem ver a vida

Sem você, meu amor
eu não sou ninguém
Sem você, meu amor
eu não sou ninguém

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Garota de Ipanema

Garota de Ipanema
Tom Jobim e Vinícius de Moraes
1962

"Garota de Ipanema" é uma das mais conhecidas canções da Bossa Nova e da Música Popular Brasileira, foi composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.

Em 19/03/1963 foi lançada pela gravadora Verve Records e no ano seguinte, saiu no LP "Getz/Gilberto", interpretada por Astrud Gilberto em conjunto com João Gilberto e Stan Getz, com a participação de Tom Jobim ao piano.

A versão original da música, com o nome de "Menina Que Passa", era diferente e continha a seguinte letra, composta por  Vinícius de Moraes:

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar

Porém, nem Tom Jobim nem Vinícius de Moraes gostaram da letra da canção. Então a versão definitiva foi refeita mais tarde por Vinícius de Moraes, inspirado em Helô Pinheiro, que passava frequentemente em frente ao Bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, em Ipanema, Rio de Janeiro.

Tom Jobim e Vinícius de Moraes frequentavam assiduamente o bar, que dispunha de pequenas mesas na calçada. A Garota de Ipanema, Heloísa Pinheiro, morava na Rua Montenegro, 22 e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração da canção.

Provavelmente em retribuição à homenagem, Heloísa Pinheiro, quando se casou, convidou Tom Jobim e sua esposa Teresa para serem padrinhos.

Vinícius de Moraes e Helô Pinheiro
Outras Versões

Uma versão instrumental desta canção já foi feita para o filme "Garota de Ipanema", de 1967.

A versão em inglês desta canção se chama "The Girl From Ipanema", cuja letra foi escrita por Norman Gimbel em 1963. Já foi cantada por Frank Sinatra, Cher, Mariza, Madonna, Sepultura, Amy Winehouse e vários outros artistas.

Um dueto entre a cantora e apresentadora Xuxa e Daniel Jobim, neto de Tom Jobim, fez parte da trilha sonora e da abertura da novela "Aquele Beijo" (2011), da TV Globo, e de autoria de Miguel Falabella, exibida no horário da 19:00 hs.

"Garota de Ipanema" foi a única canção de outros autores a ter sido interpretada pela banda Casseta & Planeta. Era cantada por Hubert imitando Paulo Francis. Atração frequente dos primeiros espetáculos da banda, foi incluída no videocassete "Casseta Popular & Planeta Diário Em Conserto" (sic), mas não nos discos subsequentes.

A canção inspirou outra da banda americana The B-52's com "Girl From Ipanema Goes To Greenland" (Garota de Ipanema Foi Para a Groenlândia), presente no disco "Bouncing Off The Satellites" (1986). É uma metáfora, já que a "Garota de Ipanema", representa uma garota alegre e atraente e a Groenlândia, um lugar frio, representa uma personalidade fria. Resumindo, é uma garota atraente que se torna insensível.



Garota de Ipanema

Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça.
É ela menina,
que vem e que passa.
Num doce balanço
a caminho do mar

Moça do corpo dourado,
do sol de Ipanema.
O seu balançado
é mais que um poema.
É a coisa mais linda
que eu já vi passar.

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe!
A beleza que não é só minha,
que também passa sozinha.

Ah, se ela soubesse
que quando ela passa.
O mundo inteirinho
se enche de graça.
E fica mais lindo
por causa do amor.

sábado, 7 de junho de 2014

Odeon

Odeon
Música de Ernesto Nazareth
Letra de Vinícius de Moraes
Ano da Música: 1910
Ano da Letra: Década 60

"Odeon" é um chorinho com música de Ernesto Nazareth composta em 1910 e letra original de Vinicius de Moraes, em outra versão escrita por Ubaldo Maurício, composto em homenagem ao Cinema Odeon, localizado na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

História

Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do Cinema Odeon, o mais luxuoso da cidade do Rio de Janeiro.

Em 1910, Ernesto Nazareth compôs e dedicou esta canção "à distinta empresa Zambelli & Cia.", proprietária do Cinema Odeon. Muitas pessoas frequentavam o Cinema Odeon só para ouvi-lo tocar, deixando inclusive de assistir aos filmes.

Durante a vida de Ernesto Nazareth, "Odeon" não foi uma peça de especial destaque, tendo sido gravada apenas em 1912, pelo próprio compositor juntamente com Pedro de Alcântara ao flautim. A canção só tornou-se seu maior sucesso após sua morte, especialmente depois que recebeu letra do poeta Vinicius de Moraes na década de 60.

Em 2000, a canção fez parte da trilha-sonora da novela "O Cravo e a Rosa" com versão de Sérgio Saraceni.

Até 2012, a canção alcançou a impressionante marca de 325 gravações comerciais, feitas em diversos países.

Nara Leão

O LP "Nara Leão" foi registrado em outubro de 1968, nos estúdios da gravadora Philips, com orquestração e arranjos de Rogério Duprat, um dos maestros da Tropicália.

Uma das músicas de destaque era uma composição instrumental de 1910 que só tinha recebido letra havia pouco tempo, ainda naquele ano. Na capa do LP estava a explicação dada por Nara Leão:

"Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do cinema Odeon, na avenida Rio Branco, 137, no Rio de Janeiro. Muita gente comprava ingresso para o filme, mas passava a tarde ouvindo o seu piano. (...)
Em 1968, a meu pedido, Vinicius de Moraes fez a letra do chorinho que Ernesto Nazareth chamou de 'Odeon'".

Essa parceria inusitada de Ernesto Nazareth com Vinicius de Moraes, nascidos com 50 anos de diferença e mais de 30 anos após a morte do próprio Ernesto Nazareth, fez surgir um dos clássicos da música popular brasileira.

"Odeon" foi incluída na série de cerca de cem "Tangos Brasileiros" feitos para piano por Ernesto Nazareth. Sua obra, entre polcas, choros, tangos e peças clássicas, é um marco na música brasileira.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Odeon

Ai, quem me dera
O meu chorinho
Tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
Quando ouvia
Ele fazer tanto chorar
Ai, nem me lembro
Há tanto, tanto
Todo o encanto
De um passado
Que era lindo
Era triste, era bom
Igualzinho a um chorinho
Chamado odeon

Terçando flauta e cavaquinho
Meu chorinho se desata
Tira da canção do violão
Esse bordão
Que me dá vida
Que me mata
É só carinho
O meu chorinho
Quando pega e chega
Assim devagarzinho
Meia-luz, meia-voz, meio tom
Meu chorinho chamado odeon

Ah, vem depressa
Chorinho querido, vem
Mostrar a graça
Que o choro sentido tem
Quanto tempo passou
Quanta coisa mudou
Já ninguém chora mais por ninguém

Ah, quem diria que um dia
Chorinho meu, você viria

Com a graça que o amor lhe deu
Pra dizer "não faz mal
Tanto faz, tanto fez
Eu voltei pra chorar com vocês"

Chora bastante meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar
Tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai, meu chorinho
Eu só queria
Transformar em realidade
A poesia
Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom
De um chorinho chamado odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo
Eu até hoje ainda percebo essa ilusão
Essa saudade que vai comigo
E até parece aquela prece
Que sai só do coração
Se eu pudesse recordar
E ser criança
Se eu pudesse renovar
Minha esperança
Se eu pudesse me lembrar
Como se dança
Esse chorinho
Que hoje em dia
Ninguém sabe mais

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Na Tonga da Mironga do Kabuletê
Vinícius de Moraes e Toquinho
Começo da década de 70

Vinícius de Moraes iniciava sua parceria com Toquinho, morava em Salvador e era há pouco casado com a baiana Gessy Gesse

O Brasil estava naquela fase do "Pra Frente Brasil". De um lado, o chamado "Milagre Econômico", do outro a censura, ditadura e repressão.

Vinícius de Moraes, ateu "graças a Deus", se aproximou do candomblé e seguia uma vida sem muitas regras. Um dia, estava em casa com Toquinho, quando Gessy Gesse entra pela porta e grita: "Na Songa da Mironga do Kabuletê!", afirmando que se tratava de um xingamento que ela ouvira no Mercado Modelo.

Com ToquinhoVinícius de Moraes compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves, para a apresentação oficial da dupla. Uma forma de protesto político, afrontar os militares sem que eles tivessem consciência. Na época o Brasil era governado por uma ditadura e essa era a oportunidade de protestar sem que os militares compreendessem.

E o poeta ainda se divertia com tudo isso: "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô". Assim, mudaram "songa" por "tonga"Vinícius de Moraes mandou todo mundo à "Tonga da Mironga do Kabuletê".

Mas o que significa?

Segundo o livro "Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão", uma biografia (Cia das Letras, 1994), significava "O pelo do cu da mãe". Procurando em sítios digitais, encontram-se outros significados, ou mesmo que a sonoridade não tem sentido nenhum.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê

Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê

domingo, 18 de maio de 2014

Chega de Saudade

Chega de Saudade
Vinícius de Moraes e Tom Jobim
1956

"Chega de Saudade" é uma canção escrita por Vinícius de Moraes (letra) e por Antonio Carlos Jobim (música), em meados dos anos 50.

Que a canção "Chega de Saudade" inaugurou a Bossa Nova, nos idos de 1958, quase todo mundo sabe. Que a música popular brasileira nunca mais foi a mesma depois que João Gilberto gravou essa música, embora a primeira gravação fosse de Elizeth Cardoso, ao som do violão do próprio João Gilberto, também é fato notório. Mas vejamos aqui o depoimento de Vinícius de Moraes, na coletânea de artigos "Samba Falado" (Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2008), quando ele diz como a canção "Chega de Saudade" foi composta. 

Nesse mesmo ano de 1956, Tom, depois de preparada a partitura da minha peça "Orfeu da Conceição", resolveu ir descansar em Poço Fundo, lá para os lados de Itaipava, onde seu pai tem um sítio. Quatro sambas (os nossos primeiros) haviam saído dessa safra, todos para o "Orfeu". "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Lamento no Morro", "Mulher, Sempre Mulher" e "Um Nome de Mulher". Minha valsa "Eurídice" seria usada como o tema da mulher amada. Tudo andava sobre rodinha e eu, uma vez escolhido o diretor e os atores, achei-me com direito de ter uma angina de garganta, que me bateu na cama.
Foi no meio dessa angina que Tom, um dia, de volta da montanha, chegou à minha casa, na Rua Henrique Drummond, sentou-se ao meu lado e, depois de um papo manso, pegou meu violão e pôs-se a tocar um sambinha que logo alertou o ouvido.
- Você gosta? – perguntou-me ele ao terminar.
- Faz de novo.
Tom repetiu-o umas dez vezes. Era uma graça total, com um tecido melancólico e plangente, e bastante "chorinho lento" no seu espírito. Eu fiquei de saída com a melodia no ouvido, e vivia a cantarolá-la dentro de casa, à espera de uma deixa para a poesia.
Aquilo sim, me parecia uma música inteiramente nova, original: inteiramente diversa de tudo que viera antes dela, mas tão brasileira quanto qualquer choro de Pixinguinha ou samba de Cartola. Um samba todo em voltas, onde cada compasso era uma nota de amor, cada nota uma saudade de alguém longe.
Mas a letra não vinha. De vez em quando eu me sentava à minha mesa, diante da janela que dava para o Country (hoje a casa foi, é claro, transformada em mais um prédio de apartamentos...), e tentava. Mas o negócio não vinha. Acho que em toda a minha vida de letrista nunca levei uma surra assim. Fiz dez, vinte tentativas. Houve uma ocasião em que dei o samba como pronto, à exceção de dois versos finais da primeira parte, que eu sabia quais eram, mas que não havia maneira de se encaixarem na música, numa relação de sílaba com sílaba. Eu já estava ficando furioso, pois Tom, embora não me telefonasse reclamando nada, estava esperando pelo resultado.
Uma manhã, depois da praia, subitamente a resolução chegou. Fiquei tão contente que cheguei a dar um berro de alegria, para grande susto de minhas duas filhinhas. Cantei e recantei o samba, prestando atenção a cada detalhe, a cor das palavras em correspondência à da música, à acentuação das tônicas, aos problemas de respiração dentro dos versos, a tudo. Queria depois dos sambas do "Orfeu", apresentar ao meu parceiro uma letra digna de sua nova música: pois eu realmente a sentia nova, caminhando numa direção a que não saberia dar nome ainda, mas cujo nome já estava implícito na criação. Era realmente a bossa nova que nascia, a pedir apenas, na sua interpretação, a divisão que João Gilberto descobriria logo depois.
Intitulei-o "Chega de Saudade" recorrendo a um de seus versos. Telefonei para Tom e dei um pulo a seu apartamento. O jovem maestro sentou-se ao piano e eu cantei-lhe o samba duas ou três vezes, sem que ele dissesse nada. Depois, vi-o pegar o papel, colocá-lo sobre a estante do piano e cantá-lo ele próprio. E em breve chamar sua mulher em tom vibrante:
- Teresa!
O resto sabemos... a música brasileira jamais foi a mesma depois de "Chega de Saudade".
(Vinícius de Moraes)

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, visite o blog Famosos Que Partiram.



Chega de Saudade

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse

Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar

Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos

Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calada assim,

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você longe de mim
Não quero mais esse negócio

De você viver sem mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...


Fonte: Wikipédia e MusicBlog

domingo, 21 de abril de 2013

A Felicidade

A Felicidade
Tom Jobim e Vinícius de Moraes
1959

Música composta para o filme "Orfeu do Carnaval" de Marcel Camus, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes como Melhor Filme e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em Hollywood. Filme baseado na peça de Vinícius de Moraes "Orfeu da Conceição" que foi premiada em 1954 no concurso do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Música que consagrou o cantor Agostinho dos Santos, inclusive internacionalmente devido ao grande sucesso do filme. Em 1959 foram feitas 25 gravações dessa música com diversos cantores. É considerada clássico dos compositores, clássico brasileiro e clássico da bossa nova!

A felicidade aborda o cotidiano comum do pobre que vê no carnaval sua felicidade contínua em três dias e que se finaliza na quarta-feira de cinzas. Além disso, a letra apresenta várias definições para esse tema, sempre finalizando em cada estrofe como um reforço de que é apenas algo passageiro e de tempo menor ao de sua ausência. É como podemos verificar em "Voa tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar..."

Felicidade é um daqueles conceitos simples e ao mesmo tempo, complexo. É subjetivo e é consenso de que é momentâneo como reforça a canção de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Felicidade para nós, amantes da boa música é contemplar uma canção como essa. A grande lição que absorvemos é aproveitarmos ao extremo os momentos que definimos como felizes e nos esforçarmos para estarmos aptos a passar por aqueles momentos em que julgamos ausentes de felicidade, preparando caminho para outros momentos felizes!

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



A Felicidade

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite, passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim
Felicidade sim


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Eu Sei Que Vou Te Amar

Eu Sei Que Vou Te Amar
Vinícius de Moraes e Tom Jobim
1958

"Eu Sei Que Vou Te Amar" é uma canção de Vinícius de Moraes e Tom Jobim composta em 1958. É considerada a 24ª melhor música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil. "Eu Sei Que Vou Te Amar" é um samba-canção com inúmeras regravações, inclusive no exterior. É inesquecível a versão na qual Maria Creuza interpreta a canção enquanto Vinícius de Moraes, o Poetinha, declama o "Soneto de Fidelidade".

Inspirados na ideia da canção, em 1986, Arnaldo Jabor (direção) e Helio Paula Ferraz produziram "Eu Sei Que Vou Te Amar", grande clássico da dramaturgia brasileira, que rendeu inclusive o prêmio de melhor atriz para Fernanda Torres, no Festival de Cannes.

A música fez parte da trilha sonora de várias novelas, como: "Bambolê" (1987 - Carla Daniel), "Beleza Pura" (2008 - Nana Caymmi e Maácio Faraco), "América" (2005 - Caetano Veloso), "A Feia Mais Bela" (2006 - Jaime Camil), "Anjo Mau" (1997 - Anna Lengruber), dentre outras.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, visite o blog Famosos Que Partiram.



Eu Sei Que Vou Te Amar

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Prá te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu vou te amar
A cada despedida
Eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Prá te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida


Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Fonte: Museu da Canção

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Rosa de Hiroshima

Rosa de Hiroshima
Letra de Vinícius de Moraes
Música de Gerson Conrad
Ano da Letra: 1954
Ano da Música: 1973

"Rosa de Hiroshima" é um poema de Vinícius de Moraes, musicado por Gerson Conrad na canção "Rosa de Hiroshima" da banda Secos & Molhados. Fala sobre a explosão atômica de Hiroshima. O poema alude aos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki ocorridos na Segunda Guerra Mundial.

"Rosa de Hiroshima" foi lançada no ano de 1973, no disco de estreia do grupo. Foi a única canção creditada a Gerson Conrad no álbum. A canção é um grito pacifista e anti-nuclear, lançada em plena ditadura no Brasil. Foi apresentada ao vivo no espetáculo histórico do grupo no Maracanãzinho em meados de 1974.

A música foi a décima terceira mais executada nas rádios brasileiras no ano de 1973. Em 2009, a revista Rolling Stone brasileira listou "Rosa de Hiroshima" como a número 69 entre "As 100 Maiores Músicas Brasileiras".

Outras Versões

A canção foi lançada em uma versão ao vivo em "Secos & Molhados - Ao Vivo no Maracanãzinho", em 1974. Ney Matogrosso regravou, e apresentou ao vivo esta canção em carreira solo. Arnaldo Antunes regravou esta canção para o disco "Assim Assado - Tributo ao Secos & Molhados" que comemorava os 30 anos do Secos & Molhados, lançado em 2003.

Análise do Poema

Na primeira parte do poema, os versos são formados por cinco sílabas, tendo começos e fins definidos por consoantes que os separam. Além disso, a primeira sílaba é sempre tônica para marcar o começo de um novo verso. Perceba:

Pen sem nas cri an/ ças
Mu das te le pá/ ticas

Isso dá um ritmo mais cadenciado à leitura dos versos, como que criando fotos e dando tempo para que o leitor realmente "se lembre" das imagens que o poeta quer passar e reflita. Cada par de versos, uma foto.

Então chegamos aos versos que ficam ao meio do poema:

Mas, oh, não se esqueçam / Da rosa da rosa

Até aí, as imagens eram sobre as consequências da bomba atômica e sua radioatividade. Agora, ele pede que nos lembremos da bomba, em si, simbolizada pela rosa em alusão à flor de dejetos e fumaça que a bomba criou. E, a partir daí, o poema muda.

Os versos passam a ter seis sílabas e todos fazem parte de uma única imagem - a da bomba  portanto, devem ser interligados. Como fazer isso? Produzindo uma sinérese entre vocábulos e versos (ligando duas vogais, a do fim da última palavra de um verso com a do início do próximo verso, num fonema só). Por isso desde o início da nova foto, "Da rosa de Hiroshima", todos os versos são terminados em vogal e iniciados com outra. Veja:

Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida

O poema termina com uma última parte, com dois versos, novamente em redondilha menor (cinco sílabas) e iniciados em consoantes:

Sem cor sem perfume / Sem rosa, sem nada

Mostram novamente, as consequências da bomba, deixando o local desabitado, sem vida.


Publicações

  • Antologia Poética
  • Poesia Completa e Prosa: "Nossa Senhora de Los Angeles"
  • Poesia Completa e Prosa: "Cancioneiro"


Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada