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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Fanatismo

Fanatismo
Poema de Florbela Espanca
Música de Fagner
1923 / 1981

"Fanatismo", trata-se de um soneto da poetisa portuguesa Florbela Espanca. O poema foi musicado por Fagner e gravado no disco "Traduzir-se" de 1981.

"Fanatismo" é um soneto (dois quartetos e dois tercetos) publicado pela primeira vez no "Livro de Sóror Saudade", uma coletânea de 36 sonetos, editado em janeiro de 1923, cuja primeira edição de 200 livros esgotou-se rapidamente.

O poema foge, um pouco, dos argumentos melancólicos da maioria das poesias de Florbela Espanca, embora também se perceba componentes de dor e sofrimento. Desta vez, a poetisa optou por escancarar todo o seu amor e lirismo.

A paixão, nesta poesia, é levada ao extremo: "[...] Podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim", justificando, plenamente, o título. O amor de Florbela Espanca, em "Fanatismo" é arrebatador. É tratado de forma hiperbólica, possessiva e, ao mesmo tempo, submissa, resultado, talvez, da eterna procura de um amado: "[...] a mesma história tantas vezes lida [...]".

Desde jovem, Florbela Espanca já dava sinais de onde iria buscar suas inspirações: as coisas da alma e seus conflitos internos, decorrência de uma vida marcada por desilusões, decepções e tragédias pessoais, temas que foram transportados de forma comovente para suas obras. Sua mãe, Mariana Toscana, não podia ter filhos. Florbela Espanca e Apeles, seu irmão mais novo, embora criados por Mariana Toscana, são frutos do relacionamento extraconjugal do pai, João Maria Espanca, com Antônia da Conceição Lobo.


Florbela de Alma Conceição Espanca (1894-1930), nasceu em Vila Viçosa, Portugal, e faleceu tragicamente em Matosinhos, Portugal. Ela cometeu suicídio ainda jovem, no dia do seu aniversário, 08/12/1930. A trajetória da, talvez, maior sonetista de Portugal não foi comum: sua mãe de criação morreu jovem aos 29 anos. O irmão querido, Apeles, faleceu em um trágico desastre de avião. A curta vida da escritora, ainda foi marcada por vários casamentos desfeitos.

Tantos acontecimentos em tão pouco tempo de vida, aliado a um estilo literário único e comportamento não usual para a época, transformaram a poetisa portuguesa em um verdadeiro mito, chegando a se tornar símbolo de movimentos feministas.

Na verdade, Florbela Espanca era poetisa de extremada sensibilidade, jovem triste que falava da dor e do amor sem economia na criatividade dos versos. Ser poeta, para Florbela, "é ser mais alto, é ser maior dos que os homens..." como ela deixa claro no soneto "Ser Poeta".

Já o autor da música, o cantor e compositor Fagner, é um mestre em musicar poemas. A grande maioria das belas poesias musicadas pelo cearense se tornou grande sucesso. Já passaram pelo seu violão, por exemplo, poemas da lavra de Cecília Meireles, Patativa do Assaré, Ferreira Gullar, dentre outros grandes nomes.

Uma curiosidade: em "Fanatismo", ao final da música, o compositor acrescentou trechos de "Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo", música que Roberto Carlos fez para o pai, uma licença poética para homenagear Roberto Carlos. O disco "Traduzir-se" foi gravado na Espanha por sugestão de Joan Manuel Serrat. Sobre a inclusão de "Fanatismo" no disco o cantor declarou:

"'Fanatismo' é um disco que marcou demais. Até hoje o pessoal do mundo do disco fala dele... foi disco de ouro, lançado no mundo inteiro. ...Este disco tinha uma ideia fechada, onde coube o 'Fanatismo' porque, na época, eu tinha que ter uma música em português.
A gravadora não entendeu e eu sabia que 'Años' iria tocar (música em espanhol que teve a participação de Mercedes Sosa), como aconteceu. Me pediram para gravar uma música só comigo cantando em português. Foi onde conheci o trabalho da Florbela Espanca, o Fausto me deu um livro lá em Portugal na volta desta viagem da Espanha. Fiz estas músicas, cheguei aqui e gravei. Deu para acoplar ainda no disco. Mas também foi uma música feita com a influência das coisas da região, veio no clima, não se afastou muito da ideia deste disco."



Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida,
Meus olhos andam cegos de te ver.
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida.

Não vejo nada assim enlouquecida,
Passo no mundo, meu Amor, a ler.
No misterioso livro do teu ser,
A mesma história tantas vezes lida.

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!..."

Eu já te falei de tudo,
mas tudo isso e pouco,
diante do que sinto!



Fonte: Dr. Zen