"Traduzir-se" é um poema de Ferreira Gullar publicado em 1980, no livro "Na Vertigem do Dia". O poema foi musicado por Raimundo Fagner em 1981.
Embora tenha colocado, com rara beleza, a letra no clássico "Trenzinho do Caipira", de Villa Lobos, Ferreira Gullar declarou não ter muita habilidade para colocar letra em música já pronta, o inverso, no entanto, é verdadeiro: a poesia de Ferreira Gullar é extremamente musical, muitas até parecem que foram feitas especialmente para serem musicadas.
O próprio Fagner, um amigo e admirador da obra de Ferreira Gullar, trabalhou, pelo menos, mais quatro poemas de seus poemas. São eles: "Contigo", "Cantiga Para Não Morrer (Me Leve)", "Menos a Mim" e "Rainha da Vida". Raimundo Fagner certamente não acredita na incapacidade do poeta em colocar letra em música pronta, certa vez, o cantor encaminhou um CD com várias músicas para que Ferreira Gullar colocasse a letra, e sobre este assunto Ferreira Gullar declarou:
"O caso do Fagner é diferente, ele me procurou, ele buscou meus poemas e nos tornamos amigos. Eu gosto muito dele, tenho uma grande amizade por esse cearense. De vez em quando ele me liga ou me escreve, até me pediu outro dia para que eu colocasse letras numas músicas que ele enviou num CD - por problemas técnicos a mídia não funcionou, ficando eu impossibilitado de ouvir as músicas."
Infelizmente não conseguimos saber os desdobramentos, o certo é que Ferreira Gullar ainda presenteou Fagner com várias traduções e versões de músicas estrangeiras, entre elas, a popular "Borbulha de Amor" (Borbujas de Amor) do dominicano Juan Luis Guerra.
Muito antes de empresários inescrupulosos associarem o termo "Sertanejo" ao "Universitário", para denominar um dos mais vergonhosos embustes já surgidos na história da música brasileira, duplas como Pedro Bento & Zé da Estrada, Tião Carreiro & Pardinho, Milionário & José Rico, Tibagi & Miltinho lançavam mão da viola para cantar as agruras e alegrias do campônio brasileiro.
A música que faziam denotava a legítima riqueza cultural do interior do País, muitas vezes injustamente ignorada pela população urbana. Assim, composições como "Chico Mineiro", "Chalana", "Cabocla Tereza", "Saudade da Minha Terra", "Mula Preta", "Moda da Pinga", "Rio de Lágrimas", "Preto de Alma Branca", "Canarinho do Peito Amarelo" e "O Menino da Porteira", tornaram-se clássicos absolutos da música sertaneja nacional.
Mas o clássico dos clássicos da música caipira pertence a Angelino Oliveira, que compôs "Tristeza do Jeca", sob a inspiração do famoso personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato no seu romance "Urupês".
"Tristeza do Jeca" é, assim, um dos mais fidedignos retratos do sertanejo brasileiro, ainda mais quando escutada na interpretação inconfundível daquela que foi a maior dupla sertaneja de todos os tempos: Tonico & Tinoco.
"Tristeza do Jeca", o verdadeiro Hino do Caipira, foi composta em 1918, editada 1922 e gravada pela primeira vez, só que na forma instrumental, em 1925. A primeira gravação cantada foi em 1926 na voz de Patrício Teixeira. Mas a primeira gravação que realmente tornou célebre "Tristezas do Jeca" ficou a cargo do cantor Paraguassu, Roque Ricciardi, em 1937 pela Gravadora Colúmbia.
"Tristeza do Jeca" também foi gravada por grandes duplas como Tonico & Tinoco, Inezita Barroso, Pena Branca & Xavantinho, Sérgio Reis, Passoca, Zico & Zeca, Irmãs Galvão e entre outros tantos. Esta composição atravessou fronteiras e serviu muitas vezes como fundo musical ao se falar sobre o Brasil no exterior.
Mazzaropi também empregou "Tristeza do Jeca" no filme homônimo em 1961, ocasião na qual chegou a ter uma pequena desavença com Angelino de Oliveira quanto aos direitos autorais, mas que foi rapidamente resolvida num encontro entre Mazzaropi e Angelino.
Também foi um espetáculo inesquecível a estréia da toada "Tristeza do Jeca", a qual se deu no Clube 24 de Maio em Botucatu, SP, em 1918. Marília Banducci e Aurélia Gouveia cantaram a belíssima melodia acompanhadas pelo próprio Angelino de Oliveira no violão. Após um curto silêncio que sucedeu o último acorde, iniciou-se um aplauso que, de início tímido, prolongou-se, seguido então de pedidos de bis e, segundo depoimentos, a música foi apresentada cinco vezes naquela noite. E, Ariowaldo Pires, o Capitão Furtado, que na época tinha 11 anos de idade, presenciou esse momento maravilhoso, pois seu pai era zelador do Clube 24 de Maio.
Curiosamente, "Tristeza do Jeca" não era a música preferida de Angelino de Oliveira. Ele mesmo se espantava com o sucesso de sua composição. Inclusive, às vezes, se esquecia de parte da letra quando as pessoas insistiam para que ele a tocasse, principalmente no Colosso, que era o bar preferido onde Angelino de Oliveira gostava de fazer seus encontros musicais com os diversos amigos, tendo sempre presente o José Maria Peres.
"Tristeza do Jeca" chegou a ser utilizada como prefixo pela BBC de Londres quando a mesma iniciava suas transmissões para o Brasil.
O sucesso de "Tristeza do Jeca" em interpretações consagradas como as de Tonico & Tinocoe Inezita Barroso nos faz classificar Angelino de Oliveira como um compositor de música caipira, o que não é verdade, pois Angelino também compôs muitas serestas e canções.
Quanto à música caipira, na época, o progresso da mesma já intrigava Angelino de Oliveira que implicava com os rumos que ela vinha tomando, principalmente quando se tratava dos dramas sertanejos que já faziam sucesso. Dizia Angelino de Oliveira:
"Gozada a moda desses caipiras, só fala em desgraça. O pequenininho tá chorando, a mãe vem e derrama um caldeirão de água quente na criança, aí o marido chega em casa, mata tudo e depois se suicida... é desgraça multiplicada por dez! Ah, larga a mão, parece que a música pra ser boa tem que ter desgraça dobrada!?"
O Filme
"Tristeza do Jeca" é um filme brasileiro de 1961 produzido e dirigido por Amácio Mazzaropi, o 13º de sua carreira e seu primeiro a cores. As filmagens foram nos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Números musicais com o próprio Mazzaropi e Agnaldo Rayol.
Sinopse: Jeca, a esposa Filó, e os filhos Maria e Toninho, são trabalhadores da fazenda do Coronel Felinto, que disputa a eleição para prefeito. Seu opositor, o idoso Coronel Policarpo, é apoiado pelo Coronel Bonifácio. Ambos os candidatos querem o apoio de Jeca que é tido como um dos líderes dos trabalhadores. Jeca não quer se envolver na disputa, mas quando Sérgio, filho de Bonifácio, pede em casamento sua filha Maria, ele acaba deixando se influenciar e todos pensam que ele apoia Policarpo. O Coronel Felinto não aceita e ameaça a todos de expulsão da fazenda e rapta o filho Toninho, tentando forçar Jeca e seus amigos a votarem nele.
"Domingo no Parque" é uma canção de Gilberto Gil, lançada em 1967. Trata-se de uma música narrativa, que conta a história de dois rapazes amigos: um deles é José, o rei da brincadeira, e o outro João, o rei da confusão.
No fim de semana, ambos foram fazer o que sabiam: divertir-se e brigar, respectivamente.
Mas José não ia brigar, quando viu uma moça - Juliana - no parque de diversões e se apaixona, mas é tomado de raiva quando vê Juliana com João, sendo tomado pelo ciúme e cometendo um duplo homicídio passional, levando ao anticlímax final.
A música é riquíssima em figuras de linguagem, como as metonímias, anáforas e quiasmos. Nos arranjos, a composição causou violenta polêmica por unir elementos considerados contraditórios da cultura contemporânea, como o som do berimbau, o andamento melódico da letra, que lembra um baião, de um lado, e, de outro, a presença de orquestra de música erudita e o acompanhamento de um conjunto de rock, no caso Os Mutantes, o que revoltou muitos fãs tradicionalistas de música brasileira, por causa do uso de guitarra elétrica, considerado então um símbolo do "colonialismo cultural".
Gilberto Gil ganhou o segundo lugar com essa canção no III Festival de Música Popular da TV Record de 1967, acompanhado do grupo Os Mutantes, com moderno arranjo de Rogério Duprat, também premiado em primeiro lugar nesse quesito.
A música foi lançada no álbum "Gilberto Gil" (1968) e teve o mérito de, ao lado de "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso, se tornar um divisor na música brasileira. Gilberto Gil buscava um som mais universal para a música que se fazia naquela época e usou elementos baianos, como o som do berimbau e a roda de capoeira. A história de José e João tem narrativa cinematográfica e o arranjo orquestral de Rogério Duprat pontua o confronto e descreve perfeitamente esse clima de delírio.
A história da gravação da música "Sonhos", sucesso do cantor e compositor Peninha, começou nos estúdios da Polygram, atualmente Universal, na Rua Érico Veríssimo no Rio de Janeiro.
O produtor Pedrinho da Luz já estava com o disco do artista pronto, com arranjos do maestro Miguel Cidras. Subitamente Pedrinho da Luz entrou no Estúdio B, aonde estava gravando Zizi Possi, e chamou o maestro Hugo Bellard, um arranjador de vários sucessos.
Pedrinho da Luz pediu ao Hugo Bellard que com urgência fizesse o arranjo, em duas horas, da música "Sonhos", para aproveitar o restante do horário de estúdio que tinha reservado para o Peninha.
Como Hugo Bellard dissesse que não poderia sair dali porque estava no meio da gravação da Zizi Possi, Pedrinho da Luz pediu à produção que liberasse o Hugo Bellard.
O maestro ouviu a música, tirou os acordes, e se baseou na música "This Masquerade" que fazia sucesso nos Estados Unidos com George Benson, para o arranjo. Na segunda parte deu uma pitada de Beatles, como os cellos no estilo da música "Eleanor Rigby".
Foi o único arranjo de Hugo Bellard no disco, mas foi a música que fez sucesso, vendendo mais de 600.000 discos em semanas, um grande feito para a época. A musica até hoje vendeu mais de 1 milhão de cópias.
"Sonhos" serviu para lançar a carreira deste talentoso compositor Peninha, que hoje tem dezenas de grandes sucessos gravados pelos mais variados intérpretes.
Caetano Veloso gostou da música e do arranjo, e regravou a música em 2001. E "Sonhos" foi novamente ao primeiro lugar nas paradas.
Sonhos
Tudo era apenas uma brincadeira
E foi crescendo, crescendo, me absorvendo
E de repente, eu me vi assim, completamente seu
Vi a minha força amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho, eu não me acho
Vi um grande amor gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia
Quando o meu mundo era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho
Mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar
Quando a canção se fez mais forte e mais sentida
Quando a poesia fez folia em minha vida
Você veio me contar dessa paixão inesperada por outra pessoa
"Nunca" é um dos clássicos de Lupicínio Rodrigues, juntamente com "Vingança", inspirados em Mercedes, também conhecida por Dona Carioca.
"Toda vez que uma mulher me trai, eu ganho dinheiro", costumava dizer Lupicínio Rodrigues, afirmando que só escrevia sobre experiências vividas por ele ou por seus amigos. "As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram!".
"O Som do Pasquim" (Ed. Desiderata, 2009) é um livro organizado por Tárik de Souza, reunindo algumas antológicas entrevistas que o pessoal do Pasquim, Ziraldo, Jaguar e Henfil, fez com cantores e compositores nos anos 70. Segundo Jaguar, "quando o jornaleco e a MPB estavam no auge, nem a Censura conseguia segurar!".
Uma das entrevistas antológicas foi com Lupicínio Rodrigues, um dos cinco maiores compositores gaúchos de todos os tempos, que contou a história de uma série de suas canções. Lupicínio Rodrigues, pra quem não sabe, foi quem criou a expressão "dor de cotovelo", sendo ainda responsável por classificá-las em dor de cotovelo federal (que só poderia ser curada com embriaguez total), estadual (suportável, que se ajeitava com o passar do tempo) e municipal (incapaz até mesmo de inspirar um samba).
Duas das músicas inspiradas numa "Dor-de-cotovelo Federal" são "Nunca" e "Vingança" , ambas inspiradas numa mesma mulher. Lupicínio Rodrigues contou ao pasquim a história:
Lupicínio: A mulher que me inspirou "Vingança" viveu comigo seis anos. E depois terminou namorando um garoto que era meu empregado, que tinha 16, 17 anos.
Pasquim: Foi passado pra trás por um garoto de 17 anos?
Lupicínio: Não foi bem assim. É que eu tinha viajado, ela mandou chamar o garoto. Disse que queria falar com ele. Ela mandou um bilhete. O garoto com medo de mim, quando eu cheguei, me entregou o bilhete. Disse: "Olha, a Dona Carioca me mandou esse bilhete. Eu não sabia o que ela queria comigo. Não fui!". Entregou a mulher. Aí eu não disse nada, fiquei quietinho, inventei outra viagem, peguei a mala e fui embora.
Pasquim: Endoidou?
Lupicínio: Era época de carnaval, ela endoidou. Botou um "Dominó". Dominó é aquela fantasia preta que cobre tudo. No carnaval, feito louca, foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome, entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó" pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram: "Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora? Cadê o Lupi?".
Pasquim: Carioca por quê? Ela é carioca?
Lupicínio: É sim. Ela é viva, mora aqui. Aí ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: "Ô, encontramos a Carioca vestida de 'Dominó', num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que houve, vocês estão brigados?". Aí foi que eu fiz "Vingança". Na mesma hora, comecei, saiu (cantando): "Gostei tanto, tanto, quando me contaram..."
Pasquim: Foi uma ruptura pra valer?
Lupicínio: Eu sou muito amigo dos pais de santo, os batuqueiros lá de Porto Alegre. em cada lugar que chegava ela botava fotografia minha, cabritas, aquele negócio todo para fazer as pazes. Aí eu fiz (canta) "Nunca, nem que o mundo caia sobre mim / Nem se deus mandar nem mesmo assim."
Pasquim: O que essa mulher contribuiu para a Música Popular Brasileira não foi normal.
Quem ouve "Nunca" e "Vingança" percebe o quanto são canções amargas, de mágoa e desamor.
"Nunca" relata aquele que sofreu por amor e se recusa a perdoar, pois a perda da ilusão faz sepultar o coração... mas ao final recorre à saudade, como mensageira de um amor que o eu-lírico insiste em dizer que é passado (como foi sincero o meu amor / como eu a adorei, tempos atrás) mas que se confessa presente no final.
"Vingança" é um dos clássicos de Lupicínio Rodrigues, juntamente com "Nunca", inspirados em Mercedes, também conhecida por Dona Carioca.
"Vingança" foi o maior sucesso comercial de Lupicínio Rodrigues. Composta como um desabafo diante da traição de Mercedes, uma de suas muitas namoradas, foi gravada por Linda Batista em 1951 e fez sucesso até no Japão.
Com o dinheiro que ganhou naquele ano, Lupicínio Rodrigues comprou um carro e batizou-o com o mesmo nome da canção.
"Toda vez que uma mulher me trai, eu ganho dinheiro", costumava dizer Lupicínio Rodrigues, afirmando que só escrevia sobre experiências vividas por ele ou por seus amigos. "As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram!".
"O Som do Pasquim" (Ed. Desiderata, 2009) é um livro organizado por Tárik de Souza, reunindo algumas antológicas entrevistas que o pessoal do Pasquim, Ziraldo, Jaguar e Henfil, fez com cantores e compositores nos anos 70. Segundo Jaguar, "quando o jornaleco e a MPB estavam no auge, nem a Censura conseguia segurar!".
Uma das entrevistas antológicas foi com Lupicínio Rodrigues, um dos cinco maiores compositores gaúchos de todos os tempos, que contou a história de uma série de suas canções. Lupicínio Rodrigues, pra quem não sabe, foi quem criou a expressão "dor de cotovelo", sendo ainda responsável por classificá-las em dor de cotovelo federal (que só poderia ser curada com embriaguez total), estadual (suportável, que se ajeitava com o passar do tempo) e municipal (incapaz até mesmo de inspirar um samba).
Duas das músicas inspiradas numa "Dor-de-cotovelo Federal" são "Vingança" e "Nunca" , ambas inspiradas numa mesma mulher. Lupicínio Rodrigues contou ao pasquim a história:
Lupicínio: A mulher que me inspirou "Vingança" viveu comigo seis anos. E depois terminou namorando um garoto que era meu empregado, que tinha 16, 17 anos.
Pasquim: Foi passado pra trás por um garoto de 17 anos?
Lupicínio: Não foi bem assim. É que eu tinha viajado, ela mandou chamar o garoto. Disse que queria falar com ele. Ela mandou um bilhete. O garoto com medo de mim, quando eu cheguei, me entregou o bilhete. Disse: "Olha, a Dona Carioca me mandou esse bilhete. Eu não sabia o que ela queria comigo. Não fui!". Entregou a mulher. Aí eu não disse nada, fiquei quietinho, inventei outra viagem, peguei a mala e fui embora.
Pasquim: Endoidou?
Lupicínio: Era época de carnaval, ela endoidou. Botou um "Dominó". Dominó é aquela fantasia preta que cobre tudo. No carnaval, feito louca, foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome, entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó" pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram: "Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora? Cadê o Lupi?".
Pasquim: Carioca por quê? Ela é carioca?
Lupicínio: É sim. Ela é viva, mora aqui. Aí ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: "Ô, encontramos a Carioca vestida de 'Dominó', num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que houve, vocês estão brigados?". Aí foi que eu fiz "Vingança". Na mesma hora, comecei, saiu (cantando): "Gostei tanto, tanto, quando me contaram..."
Pasquim: Foi uma ruptura pra valer?
Lupicínio: Eu sou muito amigo dos pais de santo, os batuqueiros lá de Porto Alegre. em cada lugar que chegava ela botava fotografia minha, cabritas, aquele negócio todo para fazer as pazes. Aí eu fiz (canta) "Nunca, nem que o mundo caia sobre mim / Nem se deus mandar nem mesmo assim."
Pasquim: O que essa mulher contribuiu para a Música Popular Brasileira não foi normal.
Quem ouve "Vingança" e "Nunca" percebe o quanto são canções amargas, de mágoa e desamor.
"Vingança" relata justamente um prazer pelo sofrimento do ser outrora amado, mas que não cede à vergonha, que na verdade é o orgulho, o sentimento da honra decorrente de uma traição. E por isso luta internamente, dizendo que, enquanto força houver no peito, o eu-lírico quer apenas vingar-se e querer o mal de quem lhe traíra.
"Aí que saudades da Amélia, aquilo sim é que era mulher!"
A quantidade de sambas imortais que Ataulfo Alves criou é impressionante. O motivo? Ele poderia, quem sabe, responder dizendo o nome de um de seus sambas: "É Um Quê Que a Gente Tem". Pois é, Ataulfo Alves tinha aquele quê, um modo de dizer e sentir as coisas que penetrava direto na alma popular. É certo que nem sempre seus sucessos foram espontâneos e que muitas vezes ele teve que dar uma mãozinha extra para que o samba fosse bem executado nas rádios, mas isso não tira o valor e a grande força comunicativa da sua canção.
Para ilustrar e encurtar a estória, depois de "Ai, Que Saudades da Amélia", o nome de Amélia ganhou novo sentido, o de companheira fiel, que ficava ao lado de seu homem mesmo diante das dificuldades da vida e foi parar no dicionário de Aurélio Buarque de Holanda como "Mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem". É a canção popular criando um novo sentido para uma palavra.
A música "Ai, Que Saudades da Amélia", teve como inspiração, segundo pesquisadores, um fato real. A história foi contada por pessoas do ciclo de amizade dos dois autores com pequenas alterações nas versões. De forma resumida o fato foi o seguinte:
O baterista Almeidinha, irmão de Aracy de Almeida, contava em rodas de amigos, no Café Nice, que a cantora Aracy de Almeida, sua irmã, tinha uma lavadeira de dar inveja a qualquer dona de casa. O baterista, ao se referir às mulheres da época, costumava brincar, exaltando os predicados da doméstica. Entre outros comentários, dizia coisas como:
"Amélia era que era mulher. Amélia lavava, passava, cozinhava... Amélia era solidária ao seu homem, e passava fome ao seu lado e achava bonito não ter o que comer... e o dinheiro que ela ganhava o marido bebia... Ai! que saudades da Amélia!"
Hoje a brincadeira seria considerada machista, mas, na época, Mário Lago percebeu que ali dava samba do bom. Escreveu a letra e passou para seu parceiro Ataulfo Alves que alterou, a contragosto do letrista, alguns versos para adaptá-los à melodia.
Brincadeira sem graça, machista, que via a mulher como empregada, obediente, submissa, trabalhadeira... Mas que originou este samba genial. Disse Mário de Andrade:
"Gostei, sim, muitíssimo do 'Amélia', é das coisas mais cariocas que se pode imaginar. (...) Ora, o sujeito estoura naquela bruta saudade da Amélia, só porque está sentindo dificuldade com a nova, você já viu coisa mais humana e misturadamente humana? Tem despeito, tem esperteza, tem desabafo, tristeza, ironia, safadeza de malandro, tem ingenuidade, tem pureza lamacenta: É genial. Acho das manifestações mais complexas que há como psicologia coletiva!"
Em 1942 Ataulfo Alves estava em situação financeira difícil e, depois de oferecer inutilmente um novo samba a vários intérpretes da época. Inexplicavelmente, a dupla não conseguiu quem quisesse gravar o samba e o jeito foi o próprio Ataulfo Alves gravá-lo, embora não se considerasse bom cantor. Resolveu ele mesmo lançar, com o acompanhamento do seu grupo Academia do Samba e a introdução do bandolim de Jacob Bittencourt, o samba "Ai Que Saudades da Amélia", em parceria com Mário Lago.
O resto todo mundo sabe: "Ai, Que Saudades da Amélia" logo virou um imenso sucesso, tornando-se um dos sambas mais conhecidos da história da Música Popular Brasileira.
Como disse o jornalista Hugo Sukman, "'Amélia' elevaria Ataulfo Alves à condição de um dos maiores artistas da cultura brasileira, um artista que mudou para sempre o sentido da palavra Amélia!".
Um dos elementos que caracteriza os sambas de Ataulfo Alves é que eles estão repletos de ditos populares: "Morre o homem, fica a fama", "Atire a primeira pedra", "Perdão foi feito pra gente pedir", "Laranja madura, na beira da estrada...", "Eu era feliz e não sabia", "Quem é bom já nasce feito", "Pretensão e água benta, cada um toma o que quer", "Nessa vida tudo passa", e tantos outros.
"Pelo Telefone" é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo a maioria dos autores, a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional.
Composição de Ernesto dos Santos, mais conhecido como Donga, e do jornalista Mauro de Almeida. Foi registrada em 27/11/1916 como sendo de autoria apenas de Donga, que mais tarde incluiu Mauro de Almeida como parceiro.
"Pelo Telefone" foi concebida em um famoso terreiro de candomblé daqueles tempos, a casa da Tia Ciata, na Praça Onze, frequentada por grandes músicos da época. Por ter sido um grande sucesso e devido ao fato de ter nascido em uma roda de samba, de improvisações e criações conjuntas, vários foram os músicos que reivindicaram a autoria da composição. A melodia, originalmente, intitulava-se "Roceiro" e foi uma criação coletiva, com participação de João da Baiana, Pixinguinha, Caninha, Hilário Jovino Ferreira, Sinhô, entre outros.
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"Pelo Telefone" marca o início do reinado da canção carnavalesca. É a partir de sua popularização que o carnaval ganha música própria e o samba começa a se fixar como gênero musical. Desde o lançamento, quando apareceram vários pretendentes à sua autoria, e mesmo depois, quando já havia sido reconhecida sua importância histórica, essa melodia seria sempre objeto de controvérsia, tornando-se uma de nossas composições mais polêmicas em todos os tempos.
Quase tudo que a este samba se refere é motivo de discussão: a autoria, a afirmação de que foi o primeiro samba gravado, a razão da letra e até sua designação como samba. Todas essas questões, algumas irrelevantes, acabaram por se integrar à sua história, conferindo-lhe mesmo um certo charme.
"Pelo Telefone" tem uma estrutura ingênua e desordenada: a introdução instrumental é repetida entre algumas de suas partes (um expediente muito usado na época) e cada uma delas tem melodias e refrões diferentes, dando a impressão de que a composição foi sendo feita aos pedaços, com a junção de melodias escolhidas ao acaso ou recolhidas de cantos folclóricos.
Outra versão, relatada por Donga a Ary Vasconcelos e ao jornalista Eduardo Sucupira Filho, é a de que "Pelo Telefone" teria surgido de uma estrofe a ele transmitida por um tal Didi da Gracinda, elemento ligado ao grupo de Hilário Jovino. Já Mauro de Almeida, que parece nunca ter-se preocupado em afirmar sua participação na autoria, declarou, em carta ao jornalista Arlequim, ser apenas o "arreglador" dos versos, o que corresponderia à verdade.
"Pelo Telefone" foi lançado em discos Odeon, em dezembro de 1916, simultaneamente pelo cantor Bahiano e a Banda da Casa Edison.
Bahiano
Primeiro Samba?
Em 1917, o samba "Pelo Telefone" se transformou no marco inicial da história fonográfica daquele gênero musical. Historiadores, porém já registraram, em suas pesquisas, gravações anteriores que podem ser reconhecidas como samba e que comprovadamente foram gravadas antes da composição assinada pela dupla Donga e Mauro de Almeida. O sucesso comercial de Fred Figner e sua Casa Edison, no Rio de Janeiro, provocou o aparecimento de concorrentes no Brasil inteiro e uma variedade enorme de selos fonográficos surgiu. A maioria de vida curta, mas que acabou por contribuir culturalmente com a Música Popular Brasileira e influir na instalação da indústria fonográfica no país.
A gravadora Odeon, por exemplo, que registrou o chamado samba pioneiro, antes dele já havia gravado, na série lançada entre 1912 e 1914, "Descascando o Pessoal" e "Urubu Malandro", classificados como sambas no próprio catálogo da fábrica.
Na série de 1912 a 1915 consta "A Viola Está Magoada" de Catulo da Paixão Cearense e interpretada por Bahiano e Júlia Martins, além de "Moleque Vagabundo" de Lourival Carvalho, também identificados como samba.
"Pelo Telefone" tem o número de série 121313, mas anteriores a ele são ainda "Chora, Chora, Choradô" (121057), cantado por Bahiano, "Janga" (121165), com o Grupo Paulista, e "Samba Roxo" (121176), com Eduardo das Neves.
O selo Columbia editou série entre 1908 e 1912, aparecendo nela como samba a gravação "Michaella", interpretada por Bartlet, "Quando a Mulher Não Quer", com Arthur Castro, e "No Samba", gravado por Pepa Delgado e Mário Pinheiro.
A Favorite Record gravava na Europa para a Casa Faulhaber do Rio de Janeiro, entre 1910 e 1913, e em seu catálogo se encontrava a gravação do samba "Em Casa de Baiana", com o Conjunto da Casa Faulhaber, identificada na abertura como "samba de partido-alto". O disco tem o título simples de "Samba", sem indicação de intérprete ou autoria. O selo Phoenix também pertencia à família Figner. Gravou de 1914 a 1918 para a Casa Edison de São Paulo.
Os sambas que nele aparecem são anteriores a 1915, ano da gravação "Flor do Abacate" (70.711), como provam suas numerações: "Samba do Urubu" (70.589), com o Grupo do Louro, "Samba do Pessoal Descarado" (70.623), com o Grupo dos Descarados, "Vadeia Caboclinha" (70.691), com o Grupo Tomás de Souza, e "Samba dos Avacalhados" (70.693), com o Grupo do Pacheco, Coro e Batuque. Da mesma maneira como existem dúvidas quanto à verdadeira autoria de "Pelo Telefone", não se pode concluir com inteira certeza qual o primeiro samba realmente gravado.
Pixinguinha, João da Bahiana e Donga
Outros Compositores
A história oral menciona vários autores para o samba "Pelo Telefone", mas quando Donga fez seu registro na Biblioteca Nacional omitiu todos, declarando ser seu único compositor. As primeiras partituras, ainda na ortografia da época, que grafava Telephone, exibiam apenas o nome de Donga. A grita que se seguiu não teve muitos resultados, mas pelo menos serviu para que Mauro de Almeida fosse reconhecido como um dos parceiros. O Peru dos Pés Frios, como era conhecido o jornalista carnavalesco, faleceu pouco tempo depois da gravação do samba, ficando todas as luzes apenas sobre Donga, que delas sempre soube tirar proveito pessoal.
O sucesso cercou "Pelo Telefone" de aspectos os mais variados, fugindo da simples conseqüência musical, de cair na preferência popular, no assobio das calçadas e na cantoria das festinhas de subúrbio. Logo um sem-número de pais-da-criança apareceu, cada um puxando a brasa para sua sardinha, todo mundo ignorando a iniciativa de Dongaem registrar oficialmente sua autoria na Biblioteca Nacional.
Como se sabe, o samba vinha sendo cantado na casa de Tia Ciata de maneira informal, como partido alto com a participação da dona da casa, emérita partideira que com certeza introduziu nele seus improvisos, o mesmo fazendo seu genro Mestre Germano e o ranchista Hilário Jovino.
Da cantoria, lá pelo ano de 1916, participavam também Donga, o jornalista Mauro de Almeida, a quem Almirante credita a autoria indiscutível do samba, João da Mata, o dono do refrão, e o conflituoso Sinhô, que como autor da frase "Samba é como passarinho, está no ar, é de quem pegar!", evidentemente tentou também se apossar da paternidade da novidade. Ironizando a atuação de Aurelino Leal, o novo chefe de policia do Rio de Janeiro, o samba teve seus versos fixados por Mauro de Almeida, que nem assim foi reconhecido como co-autor no registro da Biblioteca Nacional.
Cantado em público pela primeira vez, segundo Almirante, no Cinema Teatro Velo, à Rua Haddock Lobo, na Tijuca, despertou de imediato a cobiça alheia e, com razão ou sem ela, contestações quanto à autoria de Donga pipocaram de todos os lados. A principal veio de Tia Ciata, criando uma briga que jamais chegou à reconciliação, com um anúncio publicado no Jornal do Brasil garantindo que no Carnaval de 1917, na Avenida Rio Branco, seria cantado o "verdadeiro tango 'Pelo Telefone' dos inspirados carnavalescos João da Mata, o imortal Mestre Germano, a nossa velha amiguinha Ciata, o bom Hilário, com arranjo do pianista Sinhô, dedicado ao falecido repórter Mauro", seguindo-se a letra com o nome de "Roceiro", denunciando Donga nas entrelinhas:
Pelo telefone
A minha boa gente
Mandou avisar
Que meu bom arranjo
Era oferecido
Para se cantar
Ai, ai, ai
Leve a mão na consciência,
Meu bem
Ai, ai, ai
Mas porque tanta presença
meu bem?
O que caradura
De dizer nas rodas
Que esse arranjo é teu
E do bom Hilário
E da velha Ciata
Que o Sinhô escreveu
Tomara que tu apanhes
Para não tornar a fazer isso
Escrever o que é dos outros
Sem olhar o compromisso
Não faltaram também os aproveitadores, que na esteira do êxito da gravação de Bahiano correram atrás dos lucros que se imaginava para os autores de "Pelo Telefone". Mauro de Almeida jamais recebeu um tostão de direitos.
A Versão do Povo
No dia 20/10/1916, Aureliano Leal, chefe de polícia do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, determinou por escrito aos seus subordinados que informassem "antes pelo telefone" aos infratores, a apreensão do material usado no jogo de azar. Imediatamente o humor carioca captou a comicidade do episódio, que ao lado de outros foi cantado em versos improvisados nas festas de Tia Ciata e registrado rapidamente por Donga em seu nome, na Biblioteca Nacional. É lógico que os versos oficiais eram diferentes daqueles que ridicularizavam o chefe de polícia. Sua versão popular, a que corria na boca das ruas dizia:
Pelo Telefone
O chefe da polícia
Pelo telefone mandou avisar
Que na Carioca
Tem uma roleta para se jogar
Ai, ai, ai
O chefe gosta da roleta ô maninha
Ai, ai, ai
Ninguém mais fica forreta é maninha
Chefe Aureliano, Sinhô, Sinhô
É bom menino, Sinhô, Sinhô
Prá se jogar, Sinhô, Sinhô
De todo o jeito, Sinhô, Sinhô
O bacará, Sinhô, Sinhô
O pinguelim, Sinhô, Sinhô
Tudo é assim
A letra registrada por Donga, que passou a ser conhecida como original e aparece nas gravações até hoje, é alongada, homenageando o Peru, o jornalista Mauro de Almeida, co-autor da obra, e o Morcego, Norberto do Amaral Júnior, conhecido no Clube dos Democráticos. Incorpora também elementos do folclore nordestino:
Pelo Telefone
O chefe da folia
Pelo telefone manda avisar
Que com alegria não se questione
Para se brincar
Ai, ai, ai
Deixa as mágoas para trás ó rapaz!
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás
Tomara que tu apanhes
Pra nunca mais fazer isso
Tirar amores dos outros
E depois fazer feitiço
Ai, a rolinha, Sinhô, Sinhô
Se embaraçou, Sinhô, Sinhô
É que a avezinha, Sinhô, Sinhô
Nunca sambou, Sinhô, Sinhô
Porque esse samba, Sinhô, Sinhô
É de arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe a perna bamba, Sinhô, Sinhô
Me faz gozar, Sinhô, Sinhô
O Peru me disse
Se o Morcego visse
Eu fazer tolice,
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse que não disse
Ai, ai, ai
Aí está o canto ideal
Triunfal
Viva o nosso carnaval
Sem rival
Se quem tira o amor dos outros
Por Deus fosse castigado
O mundo estava vazio
E o inferno só habitado
Queres ou não, Sinhô, Sinhô
Vir pro cordão, Sinhô, Sinhô
Do coração, Sinhô, Sinhô
Porque esse samba, Sinhô, Sinhô
É de arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe a perna bamba, Sinhô, Sinhô
Me faz gozar, Sinhô, Sinhô
Pelo Telefone
O Chefe da polícia
Pelo telefone manda me avisar
Que na carioca
Tem uma roleta para se jogar
O Chefe da polícia
Pelo telefone manda me avisar
Que na carioca
Tem uma roleta para se jogar
Ai, ai, ai
Deixe as mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás
Ai, ai, ai
Deixe as mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás
Tomara que tu apanhes
Pra nunca mais fazer isso
Roubar amores dos outros
E depois fazer feitiço
Olha a rolinha, Sinhô, Sinhô
Se embaraçou, Sinhô, Sinhô
Caiu no lago, Sinhô, Sinhô
Do nosso amor, Sinhô, Sinhô
Porque este samba, Sinhô, Sinhô
É de arrepiar, Sinhô, Sinhô
Põe perna bamba, Sinhô, Sinhô
Mas faz gozar, Sinhô, Sinhô
O Peru me disse Se o Morcego visse Não fazer tolice, Que eu não saísse Dessa esquisitice Do disse me disse