terça-feira, 18 de novembro de 2014

Ouro de Tolo

Ouro de Tolo
Raul Seixas
1973

"Ouro de Tolo" é uma canção de Raul Seixas presente no álbum "Krig-ha, Bandolo!" de 1973. Em 2009, foi escolhida pela revista Rolling Stone a 16ª melhor na lista das 100 maiores músicas brasileiras.

O nome faz uma alusão a sua utilização durante a Idade Média quando falsos alquimistas prometiam realmente transformar chumbo em ouro, quando a linguagem da alquimia era, na verdade, metafórica ou simbólica, referindo-se à transformação espiritual do homem de um estado pesado, o chumbo, para outro de elevação, o ouro. Assim, transpondo para os próprios ideais e aspirações de Raul Seixas na época, percebe-se que ele indica que o verdadeiro ouro estava no despertar da consciência individual, visando à construção da Sociedade Alternativa, e não no discurso ufanista e triunfalista da Ditadura Militar da época. Logo, o disco voador ao final da letra seria uma referência a essa nova sociedade a ser construída.

Lançamento

Em 7 de junho de 1973, de acordo com uma estratégia de marketing proposta por Paulo CoelhoRaul Seixas convocou a imprensa para registrar sua aparição na Avenida Rio Branco, onde cantou a música "Ouro de Tolo". A cena foi exibida no horário nobre da TV, no Jornal Nacional.

A canção era um ataque no conformismo do país a respeito das ilusórias vantagens oferecidas pela Ditadura. Tornou-se sucesso instantâneo e foi gravado pela Philips com mais nove canções em "Krig-ha, Bandolo!", o primeiro LP solo de Raul Seixas, ainda em 1973.



Ouro de Tolo

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou o dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família no Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

Ah eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Codinome Beija-Flor

Codinome Beija-Flor
Cazuza
1985

"Codinome Beija-Flor" é a sexta música do álbum "Exagerado" de Cazuza, uma reflexão profunda feita em uma cama de hospital, caracterizando uma das mais profundas músicas da grande e relativamente curta carreira de um dos maiores gênios e poetas do cenário musical nacional.

É uma balada acústica, com a voz sendo acompanhada apenas por piano e violinos. A letra foi escrita por Cazuza quando deitado na cama do Hospital São Lucas, observava beija-flores na janela.

A música se analisada com o momento de Cazuza mostra claramente um estado de espírito diferente, mudando o estilo mais alegre dos tempos de Barão Vermelho, passando mais maturidade nas palavras e com seu lado poético a cada dia mais florescido.



Codinome Beija-Flor

Pra que mentir fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador
Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Garota de Ipanema

Garota de Ipanema
Tom Jobim e Vinícius de Moraes
1962

"Garota de Ipanema" é uma das mais conhecidas canções da Bossa Nova e da Música Popular Brasileira, foi composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.

Em 19/03/1963 foi lançada pela gravadora Verve Records e no ano seguinte, saiu no LP "Getz/Gilberto", interpretada por Astrud Gilberto em conjunto com João Gilberto e Stan Getz, com a participação de Tom Jobim ao piano.

A versão original da música, com o nome de "Menina Que Passa", era diferente e continha a seguinte letra, composta por  Vinícius de Moraes:

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar
Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar

Porém, nem Tom Jobim nem Vinícius de Moraes gostaram da letra da canção. Então a versão definitiva foi refeita mais tarde por Vinícius de Moraes, inspirado em Helô Pinheiro, que passava frequentemente em frente ao Bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, em Ipanema, Rio de Janeiro.

Tom Jobim e Vinícius de Moraes frequentavam assiduamente o bar, que dispunha de pequenas mesas na calçada. A Garota de Ipanema, Heloísa Pinheiro, morava na Rua Montenegro, 22 e somente dois anos e meio depois, já com namorado, ficou sabendo que era a inspiração da canção.

Provavelmente em retribuição à homenagem, Heloísa Pinheiro, quando se casou, convidou Tom Jobim e sua esposa Teresa para serem padrinhos.

Vinícius de Moraes e Helô Pinheiro
Outras Versões

Uma versão instrumental desta canção já foi feita para o filme "Garota de Ipanema", de 1967.

A versão em inglês desta canção se chama "The Girl From Ipanema", cuja letra foi escrita por Norman Gimbel em 1963. Já foi cantada por Frank Sinatra, Cher, Mariza, Madonna, Sepultura, Amy Winehouse e vários outros artistas.

Um dueto entre a cantora e apresentadora Xuxa e Daniel Jobim, neto de Tom Jobim, fez parte da trilha sonora e da abertura da novela "Aquele Beijo" (2011), da TV Globo, e de autoria de Miguel Falabella, exibida no horário da 19:00 hs.

"Garota de Ipanema" foi a única canção de outros autores a ter sido interpretada pela banda Casseta & Planeta. Era cantada por Hubert imitando Paulo Francis. Atração frequente dos primeiros espetáculos da banda, foi incluída no videocassete "Casseta Popular & Planeta Diário Em Conserto" (sic), mas não nos discos subsequentes.

A canção inspirou outra da banda americana The B-52's com "Girl From Ipanema Goes To Greenland" (Garota de Ipanema Foi Para a Groenlândia), presente no disco "Bouncing Off The Satellites" (1986). É uma metáfora, já que a "Garota de Ipanema", representa uma garota alegre e atraente e a Groenlândia, um lugar frio, representa uma personalidade fria. Resumindo, é uma garota atraente que se torna insensível.



Garota de Ipanema

Olha que coisa mais linda,
mais cheia de graça.
É ela menina,
que vem e que passa.
Num doce balanço
a caminho do mar

Moça do corpo dourado,
do sol de Ipanema.
O seu balançado
é mais que um poema.
É a coisa mais linda
que eu já vi passar.

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe!
A beleza que não é só minha,
que também passa sozinha.

Ah, se ela soubesse
que quando ela passa.
O mundo inteirinho
se enche de graça.
E fica mais lindo
por causa do amor.

domingo, 2 de novembro de 2014

Alegria, Alegria

Alegria, Alegria
Caetano Veloso
1967

"Alegria, Alegria" é uma canção da autoria de Caetano Veloso que foi um dos marcos iniciais do Movimento Tropicalista em 1967. A música foi lançada, com "Remelexo" no lado B, em 1967 e também integrou o álbum "Caetano Veloso", do mesmo ano. O nome da música veio, por sua vez, de um bordão que o cantor Wilson Simonal utilizava em seu programa na TV Record, "Show Em Si... Monal". O cantor baiano aproveitaria para intitular também de "Alegria, Alegria" seu álbum que foi lançado em novembro de 1967, assim como os próximos três.

A Composição

Caetano Veloso, em parte inspirado pelo sucesso de "A Banda", de Chico Buarque, que havia concorrido no Festival de Música da TV Record do ano anterior, quis compor uma marcha assim como a canção de Chico. Ao mesmo tempo, queria que fosse uma música contemporânea, pop, lidando com elementos da cultura de massa da época.

A letra possui uma estrutura cinematográfica, conforme definiu Décio Pignatari. Trata-se de uma "letra-câmera-na-mão", citando o mote do Cinema Novo. Caetano Veloso ainda incluiu uma pequena citação do livro "As Palavras", de Jean-Paul Sartre: "Nada nos bolsos e nada nas mãos", que acabou virando "Nada no bolso ou nas mãos".

Como a ideia do arranjo incluía guitarras elétricas, Caetano Veloso e seu empresário na época, Guilherme Araújo, convidaram o grupo argentino radicado em São Paulo Beat Boys. O arranjo foi fortemente influenciado pelo trabalho dos Beatles.

"Alegria, Alegria" é considerada a 10ª maior canção brasileira de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil.

Essa música tem um verso com apologia aos alucinógenos, no verso "sem lenço sem documento" faz ligação ao LSD.

Festival da Record

Apresentada pela primeira vez no Festival da Record daquele ano, a canção chocou os chamados "tradicionalistas" da Música Popular Brasileira devido a simples presença de guitarras. No ambiente político-cultural da época, setores de esquerda classificavam a influência do rock como alienação cultural, o que também foi sentido por Gilberto Gil quando apresentou "Domingo No Parque" no mesmo festival.

Apesar da rejeição inicial, a música acabou conquistando a maior parte da platéia. Acabou se tornando uma das favoritas, com as manifestações favoráveis superando as facções mais nacionalistas. A música acabou chegando em quarto lugar na premiação final.

Com o improvável sucesso de "Alegria, Alegria", Caetano Veloso se tornou de imediato um pop star, febre que só passou após alguns meses, embora a música tenha lançado Caetano Veloso para a fama, e sua carreira posterior só confirmado sua popularidade.



Alegria, Alegria

Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou

Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não

Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou

Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou

Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome sem telefone
No coração do brasil

Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não, por que não...