quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Que País é Este

Que País é Este
Renato Russo
1978

"Que País é Este" é uma canção da banda de rock brasileira Legião Urbana. Foi escrita por Renato Russo em 1978, quando o mesmo ainda pertencia a banda Aborto Elétrico. Porém, ela só foi lançada com o álbum do Legião Urbana "Que País é Este", de 1987.

Em um texto contido no encarte do álbum, a banda explica sobre a canção:

"Que País é Este" nunca foi gravada porque sempre havia a esperança de que algo iria realmente mudar no país, tornando-se a música então totalmente obsoleta. Isto não aconteceu e ainda é possível se fazer a mesma pergunta do título.

A música foi ranqueada na posição nº 81 da lista "As 100 Maiores Músicas Brasileiras" da Revista Rolling Stone Brasil.

Em 1987, ela foi a música nacional mais tocada no ano. Se incluirmos as músicas internacionais, ela foi a segunda música mais tocada, atrás apenas de "Livin' On a Prayer", de Bon Jovi.

História

"Que País é Este" é considerada uma das mais bem politizadas do nosso país, sendo uma das primeiras canções importantes da chamada "linha politizada" do rock brasileiro.

A música foi composta quando Renato Russo ainda pertencia à banda punk Aborto Elétrico. Porém, mesmo depois da dissolução da banda, essa canção continuou sendo apresentada por Renato Russo, desta vez nos shows da Legião Urbana, formada em 1983, em diversas cidades do país.

Renato Russo aproveitou-se do cenário político brasileiro para finalmente gravar a música.

Em 1987, o país vivia um momento complexo, como dificuldade de estabilização política naqueles três primeiros anos sem governo militar - comprometidos no seu ideal pela morte de Tancredo Neves e da utopia que ele simbolizava - o fracasso das duas encarnações do Plano Cruzado, o vazamento de Césio 137 em Goiânia, tudo isso em meio aos confusos trabalhos da Assembléia Constituinte.

Regravações

Em 1999, a banda Os Paralamas do Sucesso a regravou no álbum "Acústico MTV", lançado em CD e DVD.

Em 2005, a banda Capital Inicial a regravou no álbum "MTV Especial: Aborto Elétrico", lançado em CD e DVD. Também em 2005, a banda Titãs a regravou ao vivo para o álbum "Renato Russo - Uma Celebração".

Créditos de Gravação

  • Renato Russo: Violões, Voz, Teclados e Composição (Letra e Música)
  • Dado Villa-Lobos: Guitarras e Vocal
  • Renato Rocha: Baixo e Vocal
  • Marcelo Bonfá: Bateria, Percussão e Voz



Que País é Este

Nas favelas, no Senado,
sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição,
mas todos acreditam no futuro da nação.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

No Amazonas, no Araguaia iá, iá,
na baixada fluminense.
Mato grosso, Minas Gerais e no
Nordeste tudo em paz.
Na morte eu descanso,
mas o sangue anda solto.
Manchando os papéis, documentos fiéis,
ao descanso do patrão.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

Terceiro mundo se for,
piada no exterior.
Mas o Brasil vai ficar rico,
vamos faturar um milhão.
Quando vendermos todas as almas
dos nossos índios num leilão.
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?
Que país é este?

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Quero Que Vá Tudo Pro Inferno

Quero Que Vá Tudo Pro Inferno
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
1965

"Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" é uma canção dos compositores brasileiros Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Gravada e lançada em 1965, a música foi a primeira faixa do álbum Jovem Guarda de Roberto Carlos.

Lançada inicialmente em compacto simples em 1965, "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" é tida como uma marco na carreira de Roberto Carlos. Ela se tornaria seu maior sucesso na fase da Jovem Guarda e um dos maiores hits de toda sua carreira. Febre nas rádios brasileiras, ela elevou Roberto Carlos a condição de fenômeno musical no país.

A música foi inspirada em Magda Fonseca, então namorada do cantor, que estava nos Estados Unidos para fazer um curso de inglês. A letra expressava tanto a saudade que o cantor sentia de Magda quanto um desabafo: Que tudo fosse para o inferno.

Roberto compôs inicialmente a primeira parte da canção e a apresentou ao parceiro Erasmo Carlos, que o ajudou no restante da letra.

Depois de dois meses, Roberto Carlos finalizou a canção e, em agosto, encaminhou uma fita com sua gravação para Magda Fonseca. Logo depois, o cantor apresentou "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" para Othon Russo, diretor de relações públicas da CBS, que pediu a ele que a gravasse imediatamente e que ela seria a faixa de abertura do próximo LP de Roberto Carlos, chamado "Jovem Guarda".

Em 1975, "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno" foi regravada para o LP "Roberto Carlos",  novamente como faixa de abertura de seu álbum anual. Mas com o passar do tempo, a crescente religiosidade do cantor, aliada à superstição causada pelo transtorno obsessivo-compulsivo, fizeram com que o cantor, a partir da década de 80, banisse a canção de seu repertório. Roberto Carlos sequer mencionava o título da canção, pois sua doença fez com que ele evitasse pronunciar palavras como "mal" e "inferno".

Versões

O GNR regravou a música, criando um clipe especial para ela, em que se imitava os passos de dança da época do lançamento da musica original.

Buddy Mary McCluskey fez duas versões para a canção: "Que Se Vaya Todo Al Infierno" e "Quiero Que Todo Vaya Al Infierno".

Na novela "Vamp" de 1991, a personagem Natasha (Cláudia Ohana) canta essa música, que acabou indo para a trilha complementar da novela.



Quero Que Vá Tudo Pro Inferno

De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar,
se você não vem e eu estou a lhe esperar.
Só tenho você no meu pensamento,
e a sua ausência é todo o meu tormento.
Quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!

De que vale a minha boa vida de playboy,
se entro no meu carro e a solidão me dói.
Onde quer que eu ande tudo é tão triste,
não me interessa o que de mais existe.
Quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!

Não suporto mais você longe de mim,
quero até morrer do que viver assim.
Só quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!

Não suporto mais você longe de mim,
quero até morrer do que viver assim.
Só quero que você me aqueça nesse inverno,
e que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Oh, Oh!
E que tudo mais vá pro inferno!
Ahhhhhh
E que tudo mais vá pro inferno!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Apesar de Você

 
Apesar de Você
Chico Buarque
1970

"Apesar de Você" é uma canção escrita e originalmente interpretada pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque no ano de 1970, lançada inicialmente como compacto simples naquele mesmo ano.

A canção, por lidar implicitamente com a falta de liberdades durante a Ditadura Militar, foi proibida de ser executada pelas rádios brasileiras pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici. No entanto, seria liberada oito anos mais tarde, durante o final do governo de Ernesto Geisel. Além disso, a cantora Clara Nunes, que regravou a canção sem saber de seu tema implícito, viu-se obrigada a se apresentar nas Olimpíadas do Exército de 1971 para compensar o mal-entendido.

Antecedentes

Em março de 1970, Chico Buarque retornou ao Brasil após um auto-exílio de mais de um ano na Itália. Seu retorno foi influenciado por André Midani, diretor de sua gravadora, a Philips, que lhe assegurou "estar melhorando a situação no Brasil". No entanto, a realidade encontrada pelo cantor era bem diferente daquela descrita nas cartas de André Midani.

A tortura e o desaparecimento de pessoas contrárias ao Regime Militar eram frequentes, assim como o ufanismo presente em adesivos de carros como "Brasil, Ame-o Ou Deixe-o" e "Ninguém segura esse País", e em algumas canções populares como "Pra Frente Brasil", que só foi agravado pela conquista do tricampeonato da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 1970.

O cantor externou seu desapontamento na canção, onde a crítica à Ditadura Militar era disfarçada como uma briga entre namorados. Ao enviar a canção para o departamento de censura, Chico Buarque imaginou que a letra da canção seria vetada, mas acabou sendo liberada.

Recepção

A canção foi lançada no formato compacto simples e atingiu a marca de cem mil cópias vendidas. Além disso, o samba estourou nas rádios de todo o país. A canção virou mania nacional e acabou sendo regravada por Clara Nunes em 07/01/1971. Ela também acreditava que a letra da canção se tratava de uma briga entre namorados.

Discurso do deputado do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Lisâneas Maciel, em 1970 na Câmara dos Deputados, sobre a censura feita a canção "Apesar de Você".
Censura

Em fevereiro de 1971, o jornalista Sebastião Nery, do Tribuna da Imprensa, publicou uma nota em sua coluna dizendo que seu filho e os colegas dele cantavam "Apesar de Você" como se estivessem cantando o Hino Nacional Brasileiro. Como resultado, Sebastião Nery foi chamado para depor na polícia. Semanas depois, a execução pública da canção foi vetada pelo governo, que finalmente compreendeu sua mensagem. Os oficiais do Regime Militar invadiram a sede da Philips e destruíram as cópias restantes do disco. O censor que aprovou a canção também foi punido. Os oficiais do governo, no entanto, não destruíram a matriz, o que possibilitou a reedição da versão original da gravação. Num interrogatório, Chico Buarque foi indagado sobre quem era o "você" da letra da canção, e ele respondeu: "É uma mulher muito mandona, muito autoritária!".

A censura de "Apesar de Você" teve um impacto negativo no relacionamento entre Chico Buarque e os censores, que duraria até o final da ditadura. Chico Buarque seria implacavelmente marcado pelos censores, sofrendo suas letras as mais absurdas rejeições. A situação chegou ao ponto de ele se disfarçar, sob os pseudônimos de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, para aprovar três composições, uma das quais, "Acorda Amor", foi incluída no LP "Sinal Fechado" de 1974.

Descoberta a farsa, a censura criou novas exigências: Toda letra apresentada teria que ser acompanhada de cópias da carteira de identidade e do CPF do compositor.

Devido à censura, a canção só seria incluída num álbum do cantor em 1978, quando foi lançada como última faixa de "Chico Buarque" (1978).

Consequências Para Clara Nunes

De maneira semelhante, o presidente da Odeon, Henry Jessen, que era advogado, foi intimado para dar explicações sobre as intenções de Clara Nunes ao regravar a canção. Henry Jessen, que mantinha um ótimo relacionamento com os militares, fez um acordo com o governo para colocar um fim ao mal-entendido e provar que Clara Nunes não teve qualquer intenção político-partidária ao regravar "Apesar de Você". Ficou combinado que a cantora gravaria, num compacto simples, o "Hino das Olimpíadas do Exército", composto por Miguel Gustavo, publicitário responsável por "Pra Frente, Brasil". Também interpretaria a canção na cerimônia de abertura das Olimpíadas do Exército de 1971 em Belo Horizonte. Clara Nunes se apresentou ao lado de Luiz Cláudio, que não esteve ciente do motivo pelo qual seria acompanhado pela cantora.

Assim como Clara Nunes, outros artistas se viram obrigados a fazer publicidade para o governo. Em 1972, Elis Regina foi convocada pelos militares para cantar o Hino Nacional durante as festividades do sesquicentenário da Independência. Isto porque havia declarado à imprensa holandesa que o Brasil era governado por "gorilas". Temendo represálias, aceitou o "convite".

Regravações

Além de Clara Nunes, a canção também seria regravada mais tarde por Maria Bethânia, Benito Di Paula e Beth Carvalho.



Apesar de Você

Amanhã vai ser outro dia! (3x) 

Hoje você é quem manda falou, tá falado não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu?
Você que inventou esse Estado, inventou de inventar toda escuridão.
Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia?
Como vai proibir quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando e a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro!
Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de "desinventar".
Você vai pagar, e é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria.
Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir que esse dia há de vir antes do que você pensa.

Apesar de você!!!

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia.
Como vai se explicar vendo o céu clarear, de repente, impunemente?
Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?

Apesar de você!!!

Apesar de você amanhã há de ser outro dia. (Coro)

Você vai se dar mal, etc e tal... La, laiá, la laiá, la laiá…

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Enquanto Engomo a Calça

Enquanto Engomo a Calça
Ednardo e Climério Ferreira
1979

A música "Enquanto Engomo a Calça", do cantor e compositor cearense Ednardo, em parceria com o piauiense Climério, é mais uma dessas obras que foram inspiradas em fatos banais do cotidiano dos seus autores. Sempre me perguntei de onde o cearense tirara a ideia para contar sua "história bem curtinha, fácil de cantar" e o pior, enquanto engomava as calças - engomar, no nordeste, é passar a roupa a ferro.

O próprio artista, em uma entrevista ao jornalista Francisco Pinheiro, no programa "Sarau", em homenagem aos seus quarenta anos de carreira explicou. O autor de "Pavão Misterioso" contou que na década de 70, em companhia dos seus amigos, os compositores Dominguinhos e Climério, lançaram-se a um desafio: Qual dos três faria mais músicas em um espaço de um mês.

Não sabemos quem foi o vencedor da aposta. Ednardo, talvez por elegância ou por esquecimento, afirmou que o resultado foi um improvável empate, mas lembra de que, encerrado o desafio, resolveu convidar os dois amigos para tomar uma cervejinha na praia. Antes de sair, sua companheira percebeu que a calça do cantor estava muito amassada e comentou:

"Ednardo, tua calça está muito amassada, me deixe engomá-la!"

O cearense declarou que aproveitou o verso e convidou Climério para compor uma música comentando:

"Climério, não repare não, mas enquanto ela engoma a calça vamos fazer mais uma música?"

Foi instantâneo, correram para o violão e compuseram, em poucos minutos, um dos seus grandes sucessos. Depois foram para seu programa praiano, sem calça amarrotada e com mais uma composição no seu brilhante acervo.



Enquanto Engomo a Calça

Arrepare não,
mais enquanto engomo a calça eu vou lhe contar,
uma história bem curtinha fácil de cantar.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou,
não foi passarinho,
foi o olhar do meu amor.
Me arrepiou todinho
e me eletrizou assim quando olhou meu coração. (2x)

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Arrepare não,
mais enquanto engomo a calça eu vou lhe cantar,
uma história bem curtinha fácil de contar.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou,
não foi passarinho,
foi o olhar do meu amor.
Me arrepiou todinho
e me eletrizou assim quando olhou meu coração. (2x)

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Ai, mas como é triste 
essa nossa vida de artista. 
Depois de perder Vilma pra São Paulo, 
perder Maria Helena pro dentista.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)


Fonte: Dr. Zem