domingo, 18 de maio de 2014

Chega de Saudade

Chega de Saudade
Vinícius de Moraes e Tom Jobim
1956

"Chega de Saudade" é uma canção escrita por Vinícius de Moraes (letra) e por Antonio Carlos Jobim (música), em meados dos anos 50.

Que a canção "Chega de Saudade" inaugurou a Bossa Nova, nos idos de 1958, quase todo mundo sabe. Que a música popular brasileira nunca mais foi a mesma depois que João Gilberto gravou essa música, embora a primeira gravação fosse de Elizeth Cardoso, ao som do violão do próprio João Gilberto, também é fato notório. Mas vejamos aqui o depoimento de Vinícius de Moraes, na coletânea de artigos "Samba Falado" (Rio de Janeiro, Beco do Azougue, 2008), quando ele diz como a canção "Chega de Saudade" foi composta. 

Nesse mesmo ano de 1956, Tom, depois de preparada a partitura da minha peça "Orfeu da Conceição", resolveu ir descansar em Poço Fundo, lá para os lados de Itaipava, onde seu pai tem um sítio. Quatro sambas (os nossos primeiros) haviam saído dessa safra, todos para o "Orfeu". "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Lamento no Morro", "Mulher, Sempre Mulher" e "Um Nome de Mulher". Minha valsa "Eurídice" seria usada como o tema da mulher amada. Tudo andava sobre rodinha e eu, uma vez escolhido o diretor e os atores, achei-me com direito de ter uma angina de garganta, que me bateu na cama.
Foi no meio dessa angina que Tom, um dia, de volta da montanha, chegou à minha casa, na Rua Henrique Drummond, sentou-se ao meu lado e, depois de um papo manso, pegou meu violão e pôs-se a tocar um sambinha que logo alertou o ouvido.
- Você gosta? – perguntou-me ele ao terminar.
- Faz de novo.
Tom repetiu-o umas dez vezes. Era uma graça total, com um tecido melancólico e plangente, e bastante "chorinho lento" no seu espírito. Eu fiquei de saída com a melodia no ouvido, e vivia a cantarolá-la dentro de casa, à espera de uma deixa para a poesia.
Aquilo sim, me parecia uma música inteiramente nova, original: inteiramente diversa de tudo que viera antes dela, mas tão brasileira quanto qualquer choro de Pixinguinha ou samba de Cartola. Um samba todo em voltas, onde cada compasso era uma nota de amor, cada nota uma saudade de alguém longe.
Mas a letra não vinha. De vez em quando eu me sentava à minha mesa, diante da janela que dava para o Country (hoje a casa foi, é claro, transformada em mais um prédio de apartamentos...), e tentava. Mas o negócio não vinha. Acho que em toda a minha vida de letrista nunca levei uma surra assim. Fiz dez, vinte tentativas. Houve uma ocasião em que dei o samba como pronto, à exceção de dois versos finais da primeira parte, que eu sabia quais eram, mas que não havia maneira de se encaixarem na música, numa relação de sílaba com sílaba. Eu já estava ficando furioso, pois Tom, embora não me telefonasse reclamando nada, estava esperando pelo resultado.
Uma manhã, depois da praia, subitamente a resolução chegou. Fiquei tão contente que cheguei a dar um berro de alegria, para grande susto de minhas duas filhinhas. Cantei e recantei o samba, prestando atenção a cada detalhe, a cor das palavras em correspondência à da música, à acentuação das tônicas, aos problemas de respiração dentro dos versos, a tudo. Queria depois dos sambas do "Orfeu", apresentar ao meu parceiro uma letra digna de sua nova música: pois eu realmente a sentia nova, caminhando numa direção a que não saberia dar nome ainda, mas cujo nome já estava implícito na criação. Era realmente a bossa nova que nascia, a pedir apenas, na sua interpretação, a divisão que João Gilberto descobriria logo depois.
Intitulei-o "Chega de Saudade" recorrendo a um de seus versos. Telefonei para Tom e dei um pulo a seu apartamento. O jovem maestro sentou-se ao piano e eu cantei-lhe o samba duas ou três vezes, sem que ele dissesse nada. Depois, vi-o pegar o papel, colocá-lo sobre a estante do piano e cantá-lo ele próprio. E em breve chamar sua mulher em tom vibrante:
- Teresa!
O resto sabemos... a música brasileira jamais foi a mesma depois de "Chega de Saudade".
(Vinícius de Moraes)

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, visite o blog Famosos Que Partiram.



Chega de Saudade

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse

Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia

Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar

Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos

Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calada assim,

Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você longe de mim
Não quero mais esse negócio

De você viver sem mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...


Fonte: Wikipédia e MusicBlog

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O Que é Que a Baiana Tem?

O Que é Que a Baiana Tem?
Dorival Caymmi
1938

"O Que é Que a Baiana Tem?" é uma canção composta por Dorival Caymmi em 1938 é uma das músicas mais conhecidas da carreira de Carmen Miranda, foi eternizada como um hino da Bahia quando a artista luso-brasileira interpretou este samba no filme "Banana da Terra" (1939), de Wallace DowneyDorival Caymmi fez sua estréia na Rádio Tupi  em 1938 cantando esse samba de sua autoria e o mesmo foi gravado em 1939 em dueto com Carmen Miranda

Basicamente, a letra da canção fala sobre a tradicional vestimenta das mulheres negras e mestiças da Bahia, conhecida como "baiana", que é composta de saia comprida muito rodada, brincos e balangandãs. Esta vestimenta inspirou os tão reconhecidos trajes de Carmen Miranda.

A produtora dos filmes de Wallace Downey comprou os direitos da música "O Que é Que a Baiana Tem", já que Ary Barroso, no auge de sua carreira, cobrou muito caro pelos direitos de "Tabuleiro da Baiana".

Dorival Caymmi, Carmen Miranda e Assis Valente, na Rádio Mayrink Veiga
As músicas inicialmente escolhidas para o filme seriam "Boneca de Piche" e "Na Baixa do Sapateiro" ambas de Ary Barroso, mas por questões financeiras foram retiradas e substituídas por "O Que é Que a Baiana Tem?"

Dorival Caymmi ganhou fama e Carmen Miranda estourou mundialmente.

Em 2009, a canção foi regravada pela cantora baiana Daniela Mercury para seu álbum "Canibália".

Outras versões conhecidas foram interpretadas por Clara Nunes, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Ney Matogrosso, Margareth Menezes, Carolina Cardoso de Menezes, Lana Bittencourt, Rita Lee dentre outros cantores.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Dorival Caymmi visite o blog Famosos Que Partiram.



O Que é Que a Baiana Tem?

O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem?
Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem! 
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-Costa, tem! 
Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem! 
Tem saia engomada, tem!
Tem sandália enfeitada, tem! 
E tem graça como ninguém!
 Como ela requebra bem!

Quando você se requebrar caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem? 

Tem torço de seda, tem!
Tem brincos de ouro, tem! 
Corrente de ouro, tem!
Tem pano-da-Costa, tem! 
Tem bata rendada, tem!
Pulseira de ouro, tem! 
Tem saia engomada, tem!
Sandália enfeitada, tem! 
Só vai no Bonfim quem tem 
O que é que a baiana tem?
Só vai no Bonfim quem tem 

Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim

Quando você se requebrar caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
Caia por cima de mim 
O que é que a baiana tem? 
O que é que a baiana tem?

Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Um rosário de ouro, uma bolota assim 
Quem não tem balangandãs não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim 
Oi, não vai no Bonfim


Fonte: Wikipédia

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Águas de Março

Águas de Março
Tom Jobim
1972

"Águas de Março" é uma famosa canção brasileira do compositor, músico, arranjador, cantor e maestro Tom Jobim, de 1972. A canção foi lançada inicialmente no compacto simples "Disco de Bolso, o Tom de Jobim e o Tal de João Bosco" e, a seguir, no álbum "Matita Perê", no ano seguinte.

Em 1974, uma versão em dueto com Elis Regina foi lançada no LP "Elis & Tom". Posteriormente, Tom Jobim compôs uma versão em língua inglesa, que manteve a estrutura e a metáfora central do significado da letra.

A canção chegou a inspirar uma campanha publicitária da empresa Coca-Cola na década de 80, com um arranjo mais próximo do rock e outros versos. A versão em inglês da música foi também utilizada, já na década de 90, como tema publicitário para o lançamento do Ayala Center, nas Filipinas.

Em 2001, foi nomeada como a melhor canção brasileira de todos os tempos em uma pesquisa de 214 jornalistas brasileiros, músicos e outros artistas do Brasil, conduzida pelo jornal Folha de São Paulo. Na pesquisa realizada pela edição brasileira da revista Rolling Stone, em 2009, a canção ocupa o segundo lugar, atrás de "Construção", de Chico Buarque de Holanda.

Tom Jobim e Elis Regina (1974)
Antecedentes

No ano anterior à composição de "Águas de Março"Tom Jobim havia sofrido a única grande perseguição política em sua vida. Em um protesto contra a censura que vigorava durante a ditadura militar no Brasil, Tom Jobim e alguns compositores assinaram um manifesto e se retiraram do Festival Internacional da Canção, da Rede Globo. Doze artistas, entre os quais Tom Jobim, foram detidos e, durante algumas horas, interrogados. Segundo declarações posteriores de Chico Buarque, Edu Lobo e Ruy Guerra, um diretor da emissora esteve presente e insistiu para que os compositores voltassem e retornassem ao festival. A pressão não funcionou, mas - na opinião de Chico Buarque e Ruy Guerra - instigou o aparelho repressivo do regime a enquadrá-los na Lei de Segurança Nacional. Depois, Tom Jobim foi intimado várias vezes a prestar depoimento, chegou a ter o seu telefone grampeado e a suas cartas, violadas.

Segundo Tom Jobim, a questão foi resolvida "de uma maneira bastante brasileira", quando um escrivão de polícia solidário o chamou e disse: "Olhe, o senhor não queira se meter com polícia... Isso aqui não é bom. Negócio de polícia não é bom. Vou bater um negócio aqui para o senhor..." E assim, o escrivão bateu à máquina de escrever uma declaração, que Tom Jobim assinaria. "Este papel aqui diz que o senhor não teve intenção!".

Também no período de gravação do álbum "Matita Perê"Tom Jobim teve outros motivos para viver preocupado, que aludiam a problemas de saúde, términos de projeto de vida ou desinteresse pelos mesmos, algo que mencionaria em entrevistas posteriores.

Para a revista Playboy, em 1988, Tom Jobim contou que, à época da criação de "Águas de Março", "o médico disse que eu ia morrer de cirrose. 'É um resto de toco, é um pouco sozinho'(...)".

Em 1992, para o Jornal do Brasil, ele declarou que escreveu a canção "em um período em que estava muito na fossa. Parecia que tudo havia acabado para mim, que eu não tinha mais nada a fazer. Eu bebia muito." Segundo depoimento de Edu LoboTom Jobim ressentia-se de que "ninguém ouvia seus discos". Helena Jobim ainda afirmou que o irmão brincava naquele período que temia encerrar a carreira "aos 80 anos, cantando 'Garota de Ipanema', num circo do interior e sendo vaiado".


Letra e Música

"Águas de Março" foi composta por Tom Jobim em março de 1972. O tema começou a ser trabalhado ao violão em seu sítio do Poço Fundo, em São José do Vale do Rio Preto, região Serrana do Rio de Janeiro. De acordo com depoimento de Thereza Hermanny, esposa de Tom Jobim à época, a inspiração para "Águas de Março" surgiu ao final de um dia cansativo de trabalho provocado pela composição de "Matita Perê", futura parceria com Paulo César Pinheiro, de onde decorrem os primeiros versos "É pau, é pedra, é o fim do caminho".

"(...) assim como quem está cansado mesmo(...) Quer dizer: foi uma música que surgiu numa hora em que ele estava querendo descansar!"
(Thereza Hermmany, sobre como surgiram os primeiros versos de "Águas de Março")

Tendo percebido imediatamente o valor da canção, ainda pela madrugada, Tom Jobim bateu à janela e acordou a irmã Helena Jobim e o cunhado para lhes mostrar o primeiro rascunho da letra, com a introdução e as primeiras frases, escritas a lápis em um papel de embrulho de pão. Thereza Hermmany recorda-se de haver lhe arranjado "um papel de desenho das crianças, porque lá não era lugar de muito trabalho". Não surpreende que em um primeiro rascunho da letra contivesse um grande número de referências pontuais: "O projeto da casa", "A viga", "O vão", "A lenha", "O tijolo chegando", "O corpo na cama".

De volta ao Rio de Janeiro, concluiu a canção em uma tarde. Assim que a terminou, Tom Jobim "passou no Antonio's e convocou todos os amigos que ocupavam a varanda do restaurante para ouvirem, na sua casa, a música nova". Quando se reuniram em torno de Tom Jobim, ele "puxou um papel todo amassado do bolso" e "tocando violão, cantou a música (...) Quem chegasse na sua casa, naqueles dias, era imediatamente contemplado com a audição de 'Águas de Março'".

"Águas de Março" teve, ao menos, duas grandes fontes de inspiração. Uma é o poema "O Caçador de Esmeraldas", do poeta parnasiano Olavo Bilac ("Foi em março, ao findar da chuva, quase à entrada / do outono, quando a terra em sede requeimada / bebera longamente as águas da estação (...)). Outra é um ponto de macumba, gravado com sucesso por J. B. de Carvalho, do Conjunto Tupi ("É pau, é pedra, é seixo miúdo, roda a baiana por cima de tudo").

A estrutura musical é articulada por um motoperpétuo. Sua letra é estruturada em um único verbo (ser), conjugado na terceira pessoa do singular no presente do indicativo em praticamente todos os versos - exceto no refrão, transformado em plural ("São as Águas de Março"). Há uma constante alternância entre versos considerados otimistas e pessimistas, além do uso de antítese ("vida", "sol" / "morte", "noite"), pleonasmo ("vento ventando"), paronomásia ("ponta" / "ponto" / "conto" / "conta").

Sua letra tem caráter pouco narrativo e fortemente imagético, constituindo-se como séries descritivas conectadas a um espaço semântico amplo. Muitos elementos, de natureza geral, podem referir-se à cena do sítio: "pau", "pedra", "resto de toco", "peroba-do-campo", "nó na madeira", "caingá", "candeia", "matita perê", o que enquadra "Águas de Março" em um repertório de canções ecológicas - que incluiria depois "Chovendo na Roseira", "Boto", "Correnteza", "Passarim", além das instrumentais "Rancho das Nuvens" e "Nuvens Douradas".

A letra se assemelha a um fluxo de consciência, se referindo a seres como pau, pedra, caco de vidro, nó na madeira, peixe, fim do caminho e muitas outros. A metáfora central das "Águas de Março" é tomada como imagem da passagem da vida cotidiana, seu motocontínuo, sua inevitável progressão rumo à morte - como as chuvas do fim de março, que marcam o final do verão no sudeste do Brasil. A letra aproxima a imagem da "água" a uma "promessa de vida", símbolo da renovação.

A letra e a música operam progressões lentas e graduais, à maneira das enxurradas. Os efeitos de orquestração chegam a ser cinematográficos, a partir das relações que estabelecem entre elementos musicais e imagens do texto. Algumas metáforas são dignas de nota pela sutileza e propriedade, como o quase imperceptível "tombo da ribanceira", que acontece numa rara variação rítmica da linha do contrabaixo, além de vários movimentos de crescendo e decrescendo do naipe de cordas, reforçando o apelo da imagem da chuva na letra.


Lançamento

"Águas de Março" foi lançada originalmente como lado A de um compacto encartado no jornal O Pasquim, em maio de 1972. A ideia teria sido do cantor e compositor Sérgio Ricardo, que propusera o lançamento de um compacto simples que combinasse, em cada um dos lados, uma música de um artista consagrado, e o outro, de um estreante. Chamado "Disco de Bolso, o Tom de Jobim e o Tal de João Bosco", trazia ainda no lado B "Agnus Sei", estreia de João Bosco, e uma parceria com Aldir Blanc.

A canção foi lançada, como faixa 1, do LP "Matita Perê", do mesmo ano. Tom Jobim tocou o piano e o violão, enquanto a percussão e a bateria ficaram por conta de, respectivamente, Airto Moreira e João Palma.

Em 1974, uma nova versão de Tom Jobim, gravada com Elis Regina para o álbum-dueto "Elis & Tom", foi lançada e obteve maior sucesso comercial. Para esta versão, foram creditados Cesar Camargo MarianoTom Jobim (piano), Hélio Delmiro e Oscar Castro Neves (violão), Luizão Maia (baixo elétrico), Paulinho Braga (bateria).


Versões

"Águas de Março" teve várias versões regravadas, tanto no Brasil, quanto no exterior. Em seu país de origem, destacaram-se as gravações de João Gilberto, Leny Andrade, Miúcha, Nara Leão, Joyce, Danilo Caymmi, Sérgio Mendes e d'Os Cariocas. Em outros países, "Waters Of March", como foi traduzida literalmente, recebeu, entre outros, as interpretações de Art Garfunkel, Al Jarreau, Ella Fitzgerald e Dionne Warwick. Uma versão em francês, "Les Eaux de Mars", foi interpretada pelo cantor Georges Moustaki.


Versão Anglófona

O compositor escreveu originalmente duas versões da letra, uma em língua portuguesa e outra em língua inglesa, esta chamada de "Waters Of March", e que manteve a estrutura e a metáfora central do significado da letra.

Para o inglês, ele tentou evitar palavras com raízes latinas, disso resultou que a versão anglófona acabou por ter versos a mais que a da língua materna. A letra em inglês conserva a característica de enumeração de elementos presente na portuguesa. Entretanto, algumas referências específicas à cultura brasileira, tais como festa da cumeeira e garrafa de cana, bem como da flora brasileira, a peroba do campo, e do folclore, Matita Pereira, foram omitidas. Além disso, a versão em língua inglesa também assume um ponto de vista específico, que se assemelha ao de um observador do hemisfério norte. Neste contexto, as águas mencionadas são as águas do degelo, e não as chuvas do fim de verão do hemisfério sul a que se refere o texto em português. A "promessa de vida" do texto em português virou "promessa de primavera", referência mais relevante para a maior parte do mundo setentrional.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Tom Jobim visite o blog Famosos Que Partiram.



Águas de Março

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumueira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
Uma ave no céu, uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é pouco, sozinho
É um caco de vidro, é a vida é o sol,
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração


Fonte: Wikipédia