segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Carinhoso

Carinhoso
Pixinguinha e João de Barro
1917

"Carinhoso" é uma música de 1917, autoria de Alfredo da Rocha Viana Filho (Pixinguinha) e letra de 1937,  autoria de Carlos Alberto Ferreira Braga (João de Barro ou Braguinha).

"Carinhoso" tem uma história que se inicia de forma inusitada, com o autor da música, Pixinguinha mantendo-a inédita por mais de dez anos. Sua justificativa, no depoimento que deu ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1968:

"Eu fiz o 'Carinhoso' em 1917. Naquele tempo o pessoal nosso da música não admitia choro assim de duas partes, choro tinha que ter três partes. Então, eu fiz o 'Carinhoso' e encostei. Tocar o 'Carinhoso' naquele meio, eu não tocava... ninguém ia aceitar!".

O jovem Pixinguinha, então com 20 anos, não se atrevia a contrariar o esquema adotado nos choros da época, herdada da polca. Ele mesmo esclareceu, no depoimento, que "Carinhoso" era uma polca, polca lenta. "O andamento era o mesmo de hoje e eu classifiquei  de polca ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para chorinho".

"Carinhoso" foi gravado, apenas instrumentalmente, em 1928, pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Sobre essa gravação, um crítico pouco versado em jazz publicou o seguinte comentário na revista Phonoarte (nº 11, de 15/01/1929):

"Parece que o nosso popular compositor anda sendo influenciado pelos ritmos e melodias do jazz. É o que temos notado, desde algum tempo e mais uma vez neste seu choro, cuja introdução é um verdadeiro foxtrot e que, no seu decorrer, apresenta combinações de música popular yankee. Não nos agradou".

Ainda sem letra, "Carinhoso" teria mais duas gravações apenas instrumentais. Apesar das três gravações e execuções em programas de rádio e rodas de choro, continuava até meados dos anos 30 ignorada pelo grande público.

Em outubro de 1936, um acontecimento iria contribuir de forma acidental para uma completa mudança no curso de sua história: encenava-se naquele mês no Teatro Municipal do Rio de Janeiro o espetáculo "Parada das Maravilhas", promovido pela primeira dama, Darcy Vargas, em benefício da obra assistencial "Pequena Cruzada".

Convidada a participar do evento, a atriz e cantora Heloísa Helena pediu a seu amigo Braguinha uma canção nova que marcasse sua presença no palco. Não possuindo nenhuma na ocasião, o compositor aceitou então a sugestão da amiga para que pusesse versos no choro "Carinhoso".

"Procurei imediatamente o Pixinguinha que me mostrou a melodia num dancing (o Eldorado) onde estava atuando. No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa Helena, que muito satisfeita, me presenteou com uma gravata italiana."
(Braguinha)

Surgiu assim, escrita às pressas e sem maiores pretensões a letra de "Carinhoso", que se tornaria um dos maiores clássicos da Música Popular Brasileira a partir do momento que pode ser cantado.

Recebeu mais de duzentas gravações, desde a primeira, em 28/05/1937, cantada por Orlando Silva, o "Cantor das Multidões".

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Pixinguinha e João de Barro, visite o blog Famosos Que Partiram.



Carinhoso

Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo,
Mas mesmo assim foges de mim.

Ah se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero.
E como é sincero o meu amor,
Eu sei que tu não fugirias mais de mim.

Vem, vem, vem, vem,
Vem sentir o calor dos lábios meus
À procura dos teus.
Vem matar essa paixão
Que me devora o coração
E só assim então serei feliz,
Bem feliz.

Ah se tu soubesses como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz


9 comentários:

  1. Valeu Marcos,com certeza esse vai ser meu cantinho...PARABÉNS!




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  2. Marcos Carvalho:

    Meus parabéns pelo seu impressionante Blog.

    Sobre a primeira gravação instrumental de "Carinhoso" de Pixinguinha, realizada em 1928, espero que você tenha tomado conhecimento do site www.revistaphonoarte.com.

    No final do site, escrevi o extenso artigo "A Phono-Arte - "Lamentos" e "Carinhoso" de Pixinguinha", Artigo do Filho em Defesa do Pai.

    Para mim, a interpretação da Maysa do Chão de Estrelas, que eu já conhecia e voltei a ouvir com prazer, é a mais expressiva que conheço da famosa música, uma das mais belas de nossa MPB.

    Desejo o maior sucesso para o seu Blog.

    Antônio José Silva da Cruz Cordeiro - filho de Cruz Cordeiro

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    1. Obrigado por suas gentis palavras Antônio.
      Visitei seu site, Revista Phono-Arte, e achei bastante interessante.

      Gostaria muito de incluir a biografia de Cruz Cordeiro em meu blog Famosos Que Partiram, e para isso gostaria de poder contar com sua colaboração.

      Envie-me um email para que possamos amadurecer a idéia.

      Um grande abraço e mais uma vez obrigado pela visita e por suas palavras!

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  3. Muito bom... Apenas um reparo: "Carinhoso" teve antes outra letra, de Claudionor Cruz (1910-1955).

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  4. essa música é bela, expressiva em todo o seu contexto, Braguinha ocultou o mote da letra, deve ter vivido, com certeza, um grande, intenso e belo amor que o inspirou a escrever letra tão bela....eu canto para ninar o grande amor da minha vida, minha filhinha Martinha!
    Marcos Carvalho de Araujo

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  5. https://www.youtube.com/watch?v=eIz5V7Of2d4

    Orlando Silva tá mentindo, então?

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    1. Não entendi seu comentário... provavelmente não deva ter lido nada da matéria publicada. tem que ler antes de opinar!

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